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De boas intenções o inferno e as grandes ditaduras estão cheios

ONG de Nova York cria ação de coleta de pendrives usados para introduzir conteúdos de entretenimento e entregar, de forma clandestina, à população do ditador Kim Jong


13 de março de 2019 - 16h23

(Crédito: GettyImages)

No Convention Center de Austin, durante o SXSW, acontece diariamente uma grande exposição de novos negócios e tecnologias. Parece uma grande feira de startups, com protótipos e atrações de todos os tipos. O stand brasileiro é um dos mais bem montados e visitados, mesmo sem apresentar grandes novidades. Ao seu lado, tem o stand da Kocca, grupo de empresas digitais da Coreia do Sul, com vários bons exemplos de animações, 3D, VR e AR. Um show de modelagens e texturas, tudo com resolução 4k. Mas o que chama a atenção não é só a tecnologia, parece que eles entenderam que a realidade virtual depende de bons roteiros e estão criando boas histórias.

Outra iniciativa interessante envolve a vizinha, Coreia do Norte. Uma ONG de Nova York criou uma ação louvável, mas extremamente perigosa. A proposta é recolher pendrive usados do público, para introduzir conteúdos de entretenimento e entregar, de forma clandestina, para a população do ditador Kim Jong Un. A campanha, criada pela Leo Burnet de Chicago, é bem criativa e mostra o ditador retratado numa ilustração ao estilo pop art, de fazer inveja a Andy Warhol, com várias combinações de cores vibrantes. O detalhe é que no lugar da boca do controverso personagem, há uma entrada USB. Estava quase comprando uma camiseta para ajudar a causa, quando resolvi investigar um pouco mais. Perguntei para a simpática atendente qual era o tipo de conteúdo que eles entregavam e ela garantiu que se trata apenas de amenidades, como novelas sul-coreanas, que fazem muito sucesso em vários países da Ásia, sem nenhum viés político/ideológico.

De qualquer forma, impossível não lembrar do trágico massacre na Praça da Paz Celestial na China, em 1989. Naquela ocasião, houve casos em que os próprios pais entregavam para a polícia os filhos que protestavam a favor da liberdade e ainda pagavam para o governo o custo da bala usada na execução. Ao que me parece, o nível do autoritarismo e de lavagem cerebral de boa parte da população norte-coreana é hoje ainda pior. Coloquei a camiseta de volta no balcão e segui em frente, imaginando o que pode acontecer com um garoto ou garota na Coreia do Norte, pego com um pendrive desses no quarto. Preferi não correr o risco de ser cúmplice de qualquer represália desse tipo. Nem sempre uma boa intenção consegue produzir o resultado esperado.

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