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Desafio da equidade étnica passa pela falta de diálogo

Paulo Rogério Nunes, da aceleradora Vale do Dendê, e David Wilson (foto), fundador da BET TV, enxergam o empreendedorismo como um caminho possível para enfraquecer ao racismo

Luiz Gustavo Pacete
13 de março de 2019 - 11h46

David Wilson (Crédito: Usina Filmes)

Seja no Brasil ou nos Estados Unidos, o racismo é estrutural e combatê-lo só é um desafio enorme por que falta diálogo. Essa definição é do brasileiro Paulo Rogério Nunes, cofundador da aceleradora Vale do Dendê e do americano David Wilson, fundador da BET, TV voltada ao público afrodescendente. Ambos falaram sobre o poder do empreendedorismo negro no Brasil e Estados Unidos, durante o SXSW. Com o título “The Rise of Black Business in Brazil”, o painel colocou sob a perspectiva do empreendedorismo a contribuição para o fim do racismo. Eles conversaram com Meio & Mensagem e apontam os desafios do empreendedorismo como uma forma de reduzir o racismo no ecossistema de inovação.

David Wilson afirma, sob sua vivência nos EUA, que existem instituições que permitem que africanos e americanos avancem no mundo do ensino superior, no mundo corporativo e também recebam alguns recursos para o intraempreendedorismo. “No entanto, os recursos são muito menores do que os que os americanos brancos recebem. Mas não restam dúvidas de que há um ambiente melhor para africanos e americanos no espaço do intraempreendedorismo do que há para afro-brasileiros”, aponta.

Segundo David, esse desafio de oportunidades é ainda mais problemático quando se constata que os afro-brasileiros representam 54% da população brasileira. “Africanos e americanos só representam 14% da população americana. Enquanto sociedade, os Estados Unidos realizam maiores investimentos para a população africana e americana do que o Brasil realiza para 54% de sua população negra”, afirma. Em relação ao papel do filme Pantera Negra teve em termos de representatividade, com indicação para o Oscar de Melhor Filme, inclusive, ele concorda que o filme foi importante porque abriu mentes. “Tanto negras quanto brancas, ao potencial de pessoas negras estarem envolvidas com tecnologia e serem líderes, e da África ser um lugar de potencial futuro”, diz.

O desafio da aceleradora do Vale do Dendê e quebrar o ciclo da falta de inclusão no empreendedorismo (Crédito: Divulgação)

Para Paulo Rogério Nunes, cofundador da aceleradora Vale do Dendê, o maior desafio dessa inclusão é a falta de um diálogo franco sobre o racismo institucional no ambiente de negócios, o que faz o tema ser invisibilizado no Brasil. “Uma vez que o mercado trate esse tema com seriedade, buscando os melhores exemplos pelo mundo, nós poderemos falar sobre as dificuldades históricas que os afro-empreendedores possuem como a falta de acesso a capital que limita o crescimento desses negócios. Precisamos urgentemente criar um ambiente de negócios mais inclusivos no Brasil”, diz ele.

Em relação às ondas conservadoras em contexto em vários países, Nunes entende que elas ajudam a fortalecer os movimentos. “Resistimos aqui com os mais 300 anos de escravidão no Brasil, sempre buscando formas de lutar contra as desigualdades de maneira criativa. Os movimentos conservadores atuais são preocupantes, pois são agressivos, porém acreditamos muito na força dos grupos sociais que não toleram mais tanta injustiça e desigualdade e que quer construir um país mais inclusivo para todas as pessoas. Sendo assim, creio que no longo prazo as ideias da inclusão e da pluralidade vencerão”, ressalta.

Paulo Nunes (Crédito: Usina Films)

Para David, o conservadorismo irá, a longo prazo, acelerar o movimento negro. “Irá unir as pessoas negras e as fará ver seus direitos e sua liberdade ameaçadas e não há força maior do que unir as pessoas para lutar contra a injustiça. Nós já vimos o que aconteceu nos EUA e eu acho que veremos o que acontecerá no Brasil então, mesmo com esse forte cenário conservador no Brasil.”

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