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O cinema em VR perde o controle da narrativa e isso é o mais legal

Com a realidade virtual os filmes deixam de ter audiência e passam a receber visitantes, que podem criar sua própria experiência na narrativa


13 de março de 2019 - 9h07

 

(Crédito: reprodução/Pexels)

Das palestras e painéis que abordaram o tema da realidade virtual no SXSW, para mim foi Jessica Brillhart, ex-Google e fundadora do estúdio independente Vrai Pictures, quem melhor definiu o que é essa experiência.

Na fila para a palestra eu encontrei um amigo que também trabalha com criação e produção de conteúdo audiovisual. Aproveitei para comentar o que pude ver na exposição Virtual Cinema, com inúmeros filmes em VR, que acontecia em um dos locais do SXSW. Enquanto comentava sobre os filmes que assisti, surgiu o questionamento se determinadas histórias realmente precisavam ser contadas em realidade virtual, ou se isso seria apenas um recurso interessante. Até aquele momento, essa pergunta realmente fazia sentido para mim. Mas isso foi até assistir à palestra da Jessica.

Jessica Billhart foi além do simplificado, e até manjado, “VR é imersivo”. Ela lançou conceitos que fazem muito mais sentido. Para a filmmaker, o VR quebra dois paradigmas fundamentais:
Em realidade virtual você deixa de trabalhar em frames e passa a enquadrar o mundo.
E, mais importante, os filmes em VR não têm audiência, eles na verdade têm visitantes.

Esses dois novos conceitos mudam radicalmente a maneira como produzimos e assistimos os filmes imersivos. Se tudo está em quadro, não é a câmera que guia nosso olhar na cena, são os focos de atenção contidos nela. E quando digo focos, no plural, significa que cada pessoa pode ter uma experiência com o filme diferente de todas as outras. Tudo depende do que te chama mais atenção na cena.

Em uma cena 360º, por exemplo de um parque cheio de gente, uma pessoa pode prestar atenção em uma garota que observa pássaros, enquanto outra pode focar no cachorrinho correndo para pegar um graveto do outro lado do parque. Não existe regra, mas sim intenções. São 360º de possibilidades narrativas.

O desafio narrativo passa a ser na construção dos focos de atenção de cada cena, que pode ser apenas um, ou vários. Mas mesmo quando for apenas um, nada impede que alguém preste atenção em um ponto da cena que o roteiro nem sequer imaginou.

No cinema convencional, a edição leva a audiência por apenas um fluxo narrativo, ordenando cada plano do filme em determinada sequência. Já no cinema virtual, quem monta o filme é a audiência, ou melhor, os visitantes do universo narrativo enquanto estão assistindo, com infinitas possibilidades de versões do mesmo filme.

Para os próximos filmes VR que iremos produzir: teremos medo de perder o controle narrativo ou vamos convidar cada vez mais pessoas para personalizar a narrativa?

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