Robôs terão sentimentos? Não. Mas ….
Quanto mais as tecnologias se parecerem conosco, ainda que de forma autômata, maior será nossa tendência de rejeitá-las
Quanto mais as tecnologias se parecerem conosco, ainda que de forma autômata, maior será nossa tendência de rejeitá-las
13 de março de 2019 - 13h24
O nome da palestra da polonesa Aleksandra Przegalinska, Assistent Professor & Research Fellow da Kozminski University do MIT foi “Will Machines de Able to Feel?”. Era inquietante, mas ela foi respondendo logo nos primeiros minutos: Não! Máquinas não terão sentimentos, como nós humanos temos, tipo, carinho, afeto, amor ou ódio. Ela não aposta que isso vá acontecer.
No entanto, máquinas poderão mimetizar essas reações sentimentais humanas, o que, para nós, será como se elas de fato estivessem vivenciando emoções. E isso coloca inúmeras questões na mesa, que vão desde que emoções serão essas, como as máquinas irão expressá-las, com que grau de acuracidade e semelhança real conosco, como elas entenderão que determinadas emoções são mais positivas ou negativas para determinadas situações e quem vai ensinar tudo isso a elas ?
São perguntas essenciais para a evolução da ciência da computação nessa área cognitiva, que estão no ar aqui no SXSW sempre que o tema é Inteligência Artificial, robôs e aprendizado de máquinas.
Aleksandra é objetiva nesse ponto, como cabe a boa cientista do MIT de robótica: temos, sim, que buscar semelhanças e tentar com que as máquinas emulem nossas reações e sentimentos. Isso será melhor para todos, entende ela, doutora numa área da computação que nem sabíamos que existia, Affective Computing, ou computação afetiva, que anda de mãozinha bem dada com a neurociência.
Quando uma máquina reage a um estímulo de forma ostensiva ou, digamos, entusiasmada, ela, em tese, facilita que decodifiquemos essas reações porque elas têm ressonância no nosso repertório emocional humano. E isso, na teoria, seria bom.
Ocorre que a relação nesse nível de profundidade entre máquinas e pessoas está ainda engatinhando e ela alertou para várias lombadas no meio do caminho até que enderecemos de forma mais assertiva essa relação. Por exemplo, em pesquisa que fez com máquinas criadas por ela para interagir com seus estudantes e alunos na universidade, a reação foi péssima.
O que ela depreendeu desses primeiros experimentos é que seus alunos reagiam de forma negativa quanto mais próxima do humano fosse a mimetização do robô. Ou seja, o pessoal lá se assustou com a similitude da máquina conosco e, o que poderia em princípio parecer legal, foi exatamente o contrário.
Tipo, deduzindo aqui, é legal ter máquinas que nos ajudem e se relacionem de forma amistosa conosco, mas quanto mais elas se parecerem de fato conosco e, ainda que de forma autômata, reproduzam nossas emoções mais humanas, tenderíamos a rejeitá-las mais.
Baita questão.
Ao final de sua apresentação, ela foi no nó da questão, que todos os cientistas que estão pesquisando o tema parecem concordar: trust. Confiança.
Se nós humanos não tivermos confiança nas máquinas, de fato, quanto mais elas se parecerem conosco, mais tenderemos a rejeitá-las. Como pessoas indesejadas na vida real.
Ano que vem vamos ver que respostas o SXSW tem a essas questões. Vai ser emocionante.
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