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Nas agências, ideia será parte do caminho

Na era do multitasking, relação dos profissionais de comunicação com a profissão deve ganhar contornos cada vez mais colaborativos

Isabella Lessa
15 de março de 2019 - 8h00

(Crédito: Divulgação)

O impacto da tecnologia e da inteligência artificial sobre as profissões dos mais diversos campos é algo que vem sendo discutido há anos, de profissões tornando-se mais data driven, como a produção de conteúdo de jornalistas à extinção de funções e nascimento de outras, ainda inimagináveis. No entanto, a discussão sobre o futuro do trabalho e de outros temas ligados à tecnologia tomou contornos diferentes nesta edição do SXSW: em vez de discutir a tecnologia em si, as palestras giraram em torno das relações humanas em relação ao trabalho nos anos que virão.

Essa foi a percepção de Cintia Gonçalves, sócia e CSO da AlmapBBDO, que focou o tema ao longo desta semana. Para ela, a tecnologia não pode ser a culpada pelo negócio não ser mais como era antes. “Estamos todos avisados, e faz tempo. A capacidade de adaptação, a coragem de se sentir desconfortável, sim. Não é por que o seu modelo de negócio de hoje vai morrer, que o seu business como um todo está morto. Entram em pauta aí capacidade de reinvenção, criatividade e mobilização das pessoas ao seu redor para fazer acontecer”, analisa.

Alguns dos painéis da programação endossam a percepção de Cintia no papel da tecnologia muito mais como acessório do que como o ator predominante no futuro do trabalho. Em algumas das discussões nos últimos dias enfatizaram a tecnologia como provedor de mais flexibilidade no universo do trabalho, oferecendo inclusive novas formas de remuneração e promovendo meios para uma maior inclusão de profissionais.

Uma outra faceta do avanço da tecnologia, especificamente sob a ótica da interação constante com conteúdos impactou diretamente os cargos e funções dos profissionais, que se tornam cada vez mais multitasking, pontua Luiz Sanches, chairman e CCO da AlmapBBDO. “É preciso resolver uma quantidade muito maior de tarefas. Tudo isso mexe profundamente com os sentimentos e as emoções das pessoas. E, claro, impacta em nosso trabalho”, comenta.

As constantes interações com a tela de celular, dezenas de apps e chats de conversa têm afetado a produtividade, a ansiedade e a até decisões e lembretes cotidianos dos indivíduos, conforme comentou Fernanda Antonelli, managing director da Wieden + Kennedy, em seu post como colaboradora de Meio & Mensagem: “quando você não pensa mais no caminho que vai fazer, mesmo que você saiba chegar lá, porque o Waze te mostra; quando você não decora mais nem o celular do seu filho de 11 anos; não precisa lembrar do aniversário do seu melhor amigo porque o Facebook rede te avisa; quando pergunta pro Google antes de pensar na resposta… Estamos delegando demais pra tecnologia, deixando muitas decisões que deveriam ser nossas serem tomadas pelo algoritmo”, escreveu.

Esses efeitos colaterais que desencadeiam emoções contraditórias em um curto espaço de tempo nos profissionais é algo comum para quem trabalha com comunicação, afirma Sanches. “Um dia você está no “topo do Everest” – porque acabou de aprovar uma campanha, de ter uma grande ideia, ganhar uma conta – e, de repente, momentos depois, está embaixo – porque descobre que aconteceu algum problema com algum cliente, ou então perdeu aquela conta ou oportunidade”, observa. Para ele, essa montanha-russa da profissão ajuda o profissional a se libertar de certas necessidades de aceitação e adquirir uma boa dose de maleabilidade.

Mas mesmo que sejam dotadas da capacidade de lidar com a aceitação diante de perdas, as agências precisam, cada vez mais, adaptarem-se a uma dinâmica que não gira mais em torno de uma única grande ideia, mas de uma mobilização de pessoas para fazer a entrega acontecer. “É entender que a ideia muito provavelmente será parte do caminho. Um caminho, sem dúvida, com múltiplas respostas e muito mais colaborativo. Fico com o paralelo proposto na conversa Cassie Kozyrkov: a questão não é a lâmpada mágica ou o gênio que sai dela, e sim os pedidos que serão feitos”, diz.

Escritórios presenciais e remotos
Durante muito tempo, escritórios de empresas de tecnologia como Google e Facebook ganharam destaque pela atratividade de suas áreas de descompressão. No entanto, segundo Marcel Ribas, líder da área de arquitetura de soluções da Dropbox, em Austin, embora importante, a influência do Vale do Silício nos escritórios ocidentais será cada vez menor. “Os espaços de trabalho do futuro demandarão muitas outras coisas”, diz. Uma das principais delas será um forte desafio cultural, já que, em breve, três grandes grupos geracionais estarão atuando em conjunto com a chegada da Geração Z. “Será uma nova fase de aprendizado por parte das empresas, já que serão jovens que possuem outras formas de consumo de conteúdo e dinâmicas de compreensão sobre o trabalho”, observa.

Ele aponta também que o trabalho remoto, que deu aos profissionais o direito de trabalharem de casa, é algo que está em xeque já que, em dinâmicas colaborativas e processo de aprendizagem cultural serão cada vez mais necessários. “A grande diferença que vejo, independentemente dos tipos de escritório, é que acabou o tempo em que você precisava ser um personagem para se portar no seu trabalho, a autenticidade permite que as pessoas sejam o que elas são no pessoal e profissional”, explica.

*Colaborou Luiz Gustavo Pacete

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