SXSW: Como o teatro fará o vídeo volumétrico virar realidade
Os testes da nova tecnologia tem tido melhores resultados com diretores de teatro, por causa da sua noção de espaço e sua capacidade de improviso
Os testes da nova tecnologia tem tido melhores resultados com diretores de teatro, por causa da sua noção de espaço e sua capacidade de improviso
15 de março de 2019 - 13h55
Na palestra “Immersive Storytelling: Breaking the Fourth Wall” (Histórias imersivas: quebrando a quarta parede, em tradução livre), Diego Prilusky, criativo-chefe da Intel Studios, mostrou o que ele aposta ser o próximo passo da indústria audiovisual: o vídeo volumétrico.
Sua startup chamada Replay, que foi vendida para a Intel por US$ 175 milhões em 2016, criou uma tecnologia de filmagem que capta não apenas um pixel de cor, como fazem todas as câmeras hoje em dia, mas voxels, que são pixels em 3 dimensões, com volume e posição espacial.
Pense na captação de um vídeo em 360 graus, só que ao contrário. Em vez de uma esfera de câmeras no centro filmando para fora, um domo de câmeras ao redor filmando para dentro. Veja a explicação neste vídeo.
Apostando forte nessa nova tecnologia, a Intel montou um gigantesco estúdio dentro de um hangar no aeroporto de Los Angeles, onde começou a fazer uma série de filmagens, ainda como teste antes de começar a produzir em escala. Esta cena de faroeste é um exemplo do resultado.
Apesar da tecnologia ser impressionante, o que mais me chamou a atenção na palestra foi algo que Prilusky falou sem dar muita importância. Ele disse que diretores de cinema, por melhores que sejam, têm tido uma enorme dificuldade em filmar fora da visão unilateral. Fora do quadrado, literalmente. E que ele tem tido resultados muito melhores com diretores de teatro, por causa da sua noção de espaço e sua capacidade de improviso.
Se propaganda fosse arte, acredito que seria o cinema. Vídeo é sem sombra de dúvida nosso maior veículo de expressão e nossa forma de criar e produzir também se assemelha mais à sétima arte do que à periodicidade da TV ou à fluidez do conteúdo on-line, como o produzido pelos youtubers. E como os diretores de cinema de Prilusky, acredito que também estamos “apanhando” para criar fora do quadrado.
No teatro, se deseja “merda” para os atores antes do espetáculo, e não “boa sorte” ou “bom espetáculo”, pois eles dizem que dá azar. Será que uma forma de fazer propagandas mais inspiradas no teatro, abraçando o erro e o inesperado como parte do processo, não seria benéfico? Será que nossa tentativa de ter o controle de cada mínimo detalhe através das mil etapas de aprovação e pré-teste não está nos limitando?
Vejo inclusive um paralelo com a produção de software. Sempre beta é um mantra que todos conhecem bem e significa que o produto nunca está 100% pronto. Sempre pode melhorar através de testes, interação e feedback dos usuários.
Atores de teatro todas as noites precisam lidar com a incertezas de uma arte performática exposta ao erro humano. O melhor ator pode esquecer uma fala ou tropeçar no palco. E todas as noites eles recebem feedback do público. Uma peça sempre pode melhorar e nunca vai ser 100% perfeita.
Não vejo porque isso não valeria para a propaganda também. O digital é interativo e fluido por natureza, e temos recursos que permitem testar, medir a reação do público e melhorar constantemente as campanhas. Por tudo isso, torço por uma propaganda mais parecida com teatro. “Merda!” para todos vocês.
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