A lição de casa é integrar tecnologia e relações pessoais
AI, VR e e-learning são as apostas para as escolas do agora. No ensino do amanhã, não há limites para o que pode ser criado
AI, VR e e-learning são as apostas para as escolas do agora. No ensino do amanhã, não há limites para o que pode ser criado
20 de março de 2019 - 11h13
“Nenhum homem é uma ilha”. A frase do poeta inglês John Donne representa muito do que ouvi na minha segunda participação no SXSW Edu há alguns dias. Cheguei ao evento imaginando que me surpreenderia com as novidades tecnológicas e aprenderia sobre como a inteligência artificial pode fazer a diferença na Educação. E, é claro, essas inovações todas estiveram presentes. Mas a tecnologia, sozinha, não cumpre o papel fundamental da Educação que é humanizar. Para uma Educação de qualidade, é preciso que professores, além de preparados tecnicamente para ensinar, também estejam atentos a si mesmos e às relações (com os alunos, com as famílias e com a comunidade), transformando as escolas em verdadeiras comunidades de aprendizagem.
Hoje em dia, falar em utilizar a tecnologia para avançar é, usando o chavão, “chover no molhado”. Se em 2018 a tecnologia foi hot topic das apresentações no SXSW Edu, em 2019, quase um terço das apresentações do evento apontaram, mais ou menos diretamente, para uma valorização necessária das relações humanas – uma das palestras, por exemplo, trouxe uma provocação direta: “Por que a tecnologia não está transformando o ensino”.
Inteligência artificial, realidade virtual e e-learning são as apostas para as escolas do agora. Para o ensino do amanhã não há limites para o que pode ser criado, mas como lidar com a polaridade que é ter avanços tecnológicos que podem nos unir a todas e cada uma das pessoas do planeta e, ao mesmo tempo, nos distanciar delas e de nós mesmo?
A apresentação do Instituto Península no evento colaborou com a reflexão sobre o tema trazendo um ponto que, para nós, é valioso: como o desenvolvimento integral dos professores pode ajudar a alavancar a Educação. Acreditamos que quando o professor exercita e aprimora a autorreflexão e o autoconhecimento – dimensões não tão presentes na formação dos professores – isso colabora substancialmente para seu avanço profissional, assim como pensar em seus comportamentos, relações e participação nos sistemas com os quais se relaciona. Desenvolver integralmente um professor para que tenha uma mente afiada, um coração aberto e um corpo equilibrado, conectando tudo isso a um forte propósito pode ser um turning point na Educação.
Tivemos uma experiência muito interessante com a transformação da Escola Municipal Dulce, em Itirapina, interior de São Paulo. Lá, toda a equipe se desenvolveu integralmente e mudou a forma como se relacionava com os alunos, com as famílias, com a comunidade e entre os times. O resultado foi espetacular. Professores mais realizados no trabalho, alunos que amam a escola e pais que veem os filhos felizes, mais envolvidos com o aprendizado e com uma mudança positiva no comportamento. Quem ganha é toda a comunidade, que começa a perceber uma nova geração mais preparada para os desafios da vida e mais apta a criar relações humanas legítimas, com empatia e respeito ao próximo, por exemplo.
Na escola do futuro, a Educação Integral tem papel fundamental para um ensino de qualidade que desenvolva cidadãos que possam atuar no mundo de forma ética e transformadora. Uma ferramenta tão preciosa quanto computadores de última geração, programas de inteligência artificial e aulas em realidade virtual.
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