SXSW 2019 – Antes de tudo, um festival de música!
Desde de que comecei minha carreira musical busco respostas para a pergunta: “how to make it in the new musical business”, título da palestra de Ari Herstand
Desde de que comecei minha carreira musical busco respostas para a pergunta: “how to make it in the new musical business”, título da palestra de Ari Herstand
20 de março de 2019 - 15h19
A palestra “How To Make It in the New Music Business” (Como fazer funcionar no novo negócio musical, em inglês) de Ari Herstand, ocorreu numa sala do Hotel Hilton, ao lado do Austin Convention Center, epicentro do SXSW2019. Com uma promessa dessas, corri pra pegar um dos últimos lugares disponíveis. Desde que decidi me dedicar à música, reduzindo o tempo que a propaganda ocupava em minha vida, busco respostas para essa pergunta. Sala lotada. “Quem aqui é músico?” pergunta o palestrante, para uma imensa maioria de mãos levantadas. Produtores, promotores e bloggers completavam a audiência.
Herstand é um músico folk de algum sucesso no circuito universitário americano, mas que conseguiu destaque porque rapidamente percebeu que após o derretimento da indústria da música e explosão das conexões digitais, ninguém sabia mais como construir uma carreira musical. Começou com um blog (quando isso ainda era relevante) juntando dicas e experiências pessoais, virou escritor da Digital Music News e transformou tudo isso num livro, que dá o título à palestra.
Mas o que mais me chamou a atenção não foi o conteúdo (uma combinação de conceitos de marketing, gestão, auto-ajuda e experiências pessoais do autor), mas a voracidade e quase angústia com que os presentes buscavam, assim como eu, respostas para a pergunta inicial.
Música foi uma das primeiras atividades humanas a se digitalizar. A combinação do mp3 com pirataria catalisou a erosão de um modelo que funcionou por pelo menos cinco décadas. Com o desenvolvimento do streaming, a indústria se reergueu, sobre novas bases. Fazer sucesso em música hoje (“make it”) é bem diferente do que era no passado. A realidade é muito mais fragmentada, não há mais a necessidade de intermediários entre artista e público, e não há mais espaço para mega sucessos “monopolistas” como antes. Tanto que festivais que ainda apostam nesse modelo continuam tendo headliners dos anos 80. E o SXSW representa perfeitamente essa nova realidade.
São dois mil shows oficiais (sério, não é modo de dizer), espalhados por um sem número de bares, baladas, etc. ocupando todo o centro da cidade. Quase todos em locais para 100, 200, 300 pessoas. Não havia palcos para mega-shows.
Além dos shows oficiais, um número incalculável de shows fora da programação, de artistas que nem convidados foram, mas dão um jeito de estar lá. Todos tentando “make it”, se destacar de alguma forma, buscando um lugarzinho ao sol. Afinal, todo mundo que tem alguma relevância no “new music business” está no SXSW.
Fui ao festival com minha banda, o Bixiga70. Com mais de cem shows pelos cinco continentes nos últimos anos, tendo tocado nos principais festivais do mundo (Glastonbury, Roskilde, Fusion, Dekmantel, Womad, North Sea, Montreal, Mawazine, Womex, GlobalFest), foi a primeira vez que tocamos no SXSW.
Fomos junto com outros artistas brasileiros – Luedji Luna, Xenia França, Boogarins, Karol Conka e João Brasil -, todos selecionados a partir de curadoria da BM&A, Brasil Música e Artes, organização que promove exportação de artes brasileiras.
O Bixiga70 fez dois shows importantes: um no Womex Stage, principal palco de world music e, outro no Brazil Showcase da BM&A. Shows muito bem recebidos, tanto que ao final, conseguimos colocar o nariz para fora d’água: fomos escolhidos pela Rolling Stone americana e pela prestigiada NPR com um dos destaques do festival. Num festival sem prêmios, vale como leão de ouro!
Isso quer dizer que achei a resposta para “how to make it in the new musical business”? Difícil dizer, mas pelo menos acho que já posso dar palestra sobre o tema!
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