Publicidade

Tech Trends: YoT, novas realidades e desordem

Com 12 versões de um mesmo relatório, Amy Webb apresenta os avanços tecnológicos e sociais que pautarão o futuro

Thaís Monteiro
16 de março de 2021 - 20h17

Como todo ano, Amy Webb, futurista e fundadora do Future Today Institute, apresentou no SXSW a nova edição do Tech Trends Report. Porém, ao invés de um relatório anual, este ano o instituto apresentou 12 edições com tendências para os próximos anos. A razão: o momento altamente disruptivo que a sociedade vivenciou em 2020 e suas consequências mudanças que ganharam novos insights. Foram identificadas, ao todo, 500 tendências, um aumento de 22% em relação ao ano anterior.

 

O corpo humano cada vez mais será integrado à tecnologia e servir de base de dados e informações para diversos devices (Crédito: Andy Kelly/Unsplash)

Porém, antes de apresentar as principais tendências do ano, Amy alertou que o estudo de tendências lida com diversas variáveis e que é impossível se proteger completamente do futuro. “Sobreviver uma pandemia ou uma presidência desastrosa não é ficar imune”, apontou. Os relatórios contem indicações sobre como cada área de uma empresa pode se posicionar em relação à tendência indicada e que empresas estão embarcando nas novidades.

Na sua apresentação no SXSW Online, Amy Webb indicou três tendências que se destacaram:

You of Things
Assim como já era previsto com o avanço dos werables, o corpo humano cada vez mais será integrado à tecnologia e servir de base de dados e informações para diversos devices, empresas e serviços. De acordo com Amy, esses avanços serão propulsores do fim dos smartphones, que já vêm caindo nas vendas ano a ano. Mais acessórios farão parte da rotina de conexão entre humano e tecnologia.

É possível que esses devices possam se tornar formas de monitorar onde o funcionário está ou se teve uma queda de produtividade. Outros podem medir a respiração do consumidor e punir se o usuário ficar estressado e recompensar emoções mais estáveis.

Além do marca-passo, dispositivos implantáveis já estão sendo desenvolvidos para prevenir que o corpo do usuário possa ser hackeado, ou sequestrado e aberto, e para que o corpo esteja em diálogo com os demais produtos smart em uma casa.

Ainda em linha com o humano e seu comportamento, uma grande tendência são os aparelhos que trabalham para melhorar o sono do usuário. O Ooler, por exemplo, é um lençol que regula a temperatura certa para o consumidor dormir e esquenta o tecido para fazer com que ele acorde sem despertador.

Também está em desenvolvimento produtos que leem o que o consumidor jogou no lixo e já faz um pedido online para reposição e deve se popularizar as redes de vizinhança, que conectam os aparelhos em determinado bairo e podem ser úteis para localizar celulares e outros objetos.

De acordo com a executiva, todas esses produtos e desenvolvimentos levantam questões éticas sobre redes seguras para compartilhar dados, de que forma hackers podem obter acesso aos dados e manipulação da experiência, se é inteligente concentrar todos os seus dados íntimos às grandes empresas detentoras dessas tecnologias (Google, Amazon, Microsoft e as grandes empresas chinesas), se é confiável delegar do controle do seu corpo enquanto você está inconsciente, como é o caso do Ooler, ou ter suas emoções reguladas por uma máquina.

Assistive Reality e Diminished Reality
No campo das realidades, a realidade aumentada e realidade virtual dão espaço para novas configurações. A Assistive Reality, segundo a definição de Webb, é originada a partir de aparelhos tecnológicos que ajudam a realizar tarefas no mundo físico, como os GPS. A futurista indica que hoje podemos hackear sons para alterar a realidade presente. Além das ondas sonoras que podem auxiliar na concentração, memória e no sono, agora empresas usam frequências para afastar jovens das redondezas. Outro tipo de tecnologia, os games estão ganhando funções mais cognitivas e auxiliando pessoas com transtorno de ansiedade, déficit de atenção e depressão.

Já a Diminished Reality trata de uma realidade criada a partir de produtos que tiram estímulos ao redor do usuários, como sons ou imagens incômodos. Essa tecnologia já é vista no desenvolvimento de janelas que interrompem um som ao emitir o seu equivalente cancelador. Segundo Amy, esse avanço pode mudar a forma como o mercado de imóveis, carros, aviões e espaço de eventos funcionam.

Também é possível que futuramente óculos possam cancelar alguns objetos do campo de visão do usuário. Ao mesmo tempo que isso pode ser benéfico para vetar distrações, Amy levantou um debate ético se, por exemplo, os usuários decidissem não ver lixo na rua e, portanto, não ajudar o meio ambiente ou decidir não ver pessoas em situação de rua.

Outra tendência abordada nessa seleção foram os avanços na Synthetic Media, a criação de avatares de pessoas que possibilita uma interação e aprendizado por parte desses bots por inteligência artificial. Há avanços, por exemplo, na criação de chatbots de pessoas falecidas a partir de informações de redes sociais e trocas de mensagens. Esses indicadores esbarram na polêmica do deep fake e como o uso errado dessas criações virtuais podem prejudicar a imagem de uma pessoa.

New World Disorder
Para Amy, a pandemia mudou o jogo de poder e a vigilância acabou se tornando mais aceitável e mais abrangente. Hoje, os dados estão logados em plataformas sociais, de videoconferência, são passados por consultas via telemedicina, câmeras são usadas para identificar pessoas, suas temperaturas, se tossiram devido à Covid-19, escolas nos Estados Unidos estão requisitando que pais preencham informativos sobre a saúde dos estudantes e do círculo de convívio diariamente para que ele vá à escola e, na China, drones estavam expondo e ordenando pessoas a ficar em casa.

Ao mesmo tempo, novos identificadores vão sendo criados com a necessidade de digitalizar os dados e informações sobre saúde. Daqui para frente, por exemplo, é possível que os passaportes venham com informações sobre que vacinas o viajante tomou.

Esse compartilhamento massivo de informações e as novas tecnologias de identificação têm ampliado o hacktivism (plataformas e formas de ativismo online). Perfis online já usam formas de face recognition para indicar pessoas presentes em atos como a invasão ao Capitólio dos Estados Unidos este ano.

Para Amy Webb há dois cenários possíveis a partir deste ano: o catastrófico e o de transformações. No catastrófico, previsto para 2036, não há médicos, pois as informações sobre saúde são coletadas do corpo humano e atualizadas constantemente. Pessoas com acesso financeiro, são otimizadas frequentemente e podem viver até 15 anos além da expectativa. O consumidor é punido por escolhas mundanas como escolher viver uma emoção negativa ou não comer os legumes, o que pode causar um aumento no preço do plano de saúde. O corpo é uma prisão. O trabalhador tem sua produtividade vigiada, não é mais autônomo. E o ativismo digital virou mais violento. A sociedade é dividida e a culpa é de 2020.

No cenário positivo, percebemos que atualmente vivemos em uma distopia e nos comprometemos em resolver as questões sociais em aberto. As empresas lidam com os funcionários de forma aberta e quem faz a lei não pode mais ignorar assuntos urgentes. A sociedade evolui para uma ação coletiva otimista e aspiracional.

Publicidade

Compartilhe

Patrocínio