Transformação e liderança da mídia em tempos de pandemia
No SXSW, profissionais discutem o impacto da Covid-19 na comunicação e o futuro da indústria em tempos de incertezas
No SXSW, profissionais discutem o impacto da Covid-19 na comunicação e o futuro da indústria em tempos de incertezas
Victória Navarro
16 de março de 2021 - 17h06
O impacto da pandemia da Covid-19 tem sido sentido em quase todos os setores, do varejo às viagens, da saúde à mineração. A indústria da mídia também está em crescente pressão. Ao mesmo tempo em que é confiada a divulgar notícias, capazes de afetar bilhões de pessoas ao redor do mundo, se encontra em meio à insegurança. Nesta terça-feira, 16, em painel do South by Southwest (SXSW), Annette Thomas, chief executive do The Guardian Media Group, Guru Gowrappan, CEO da Verizon Media, Michael Friedenberg, presidente da Reuters, e Helen Coster, correspondente da Reuters, discutiram o impacto da Covid-19 na comunicação, a transformação dos negócios durante uma pandemia, o futuro da mídia e a liderança em tempos de incertezas.
Modelo híbrido e duradouro
O The Guardian Media Group conta escritórios no Reino Unido, nos Estados Unidos e na Austrália. E, possui um grupo central de editores e equipe de produção que migraram para Londres, principalmente a fim de colocar de pé o jornal impresso do Reino Unido. “Acho que, à medida que avançamos, tenho mais certeza que o modelo híbrido de trabalho, em casa e de escritório, veio para ficar. Experimentamos o fato de que, no ano passado, obtivemos uma produtividade relativamente alta e um pouco de satisfação com a maneira como tivemos que trabalhar. E, o grande desafio é como fazer com que esse modelo híbrido funcione a longo prazo. Estamos focados em estimular colaboração e criatividade. Integrar novos funcionários e transmitir essas normas culturais são itens que precisam ser adaptados”, disse Annette.
Na Verizon Media, não tem sido diferente. O home office, afirmou Guru, trouxe flexibilidade, igualdade de conexão e inclusão. “Então, a a maior lição foi a importância da agilidade. Quando a transição começou, por meio de tecnologia, conteúdo e informações de qualidade, conseguimos adotar o trabalho de casa rapidamente”, disse. O segundo aprendizado foi a relevância de se colocar em prática um negócio responsável: “Como as empresas reagem e agem, durante esse período, também definirá como o ecossistema e os stakeholders te olham, nos próximos dez anos ou mais. No dedicamos, por exemplo, na saúde mental dos nossos colaboradores”. E, a última peça, destacou Guru, é a importância de ter uma missão clara e bem definida na cabeça de todos os integrantes da empresa.
Michael, da Reuters, reforçou que, em primeiro lugar, em temos de Covid-19, a segurança dos jornalistas é fundamental. “Nossos profissionais estão preparados e treinados para cobrir essas situações. O foco que tivemos na segurança física, bem como no seu bem-estar mental, foi absolutamente primordial”, afirmou. “Estamos atendendo a bilhões de pessoas em todo o mundo a cada dia e mais de 200 locais em todo o mundo. Portanto, isso não é nada novo para nós no que se refere à cobertura de situações realmente difíceis. Mas, é algo único, quando o assunto se trata de algo em uma escala global”, complementou.
Impactos na publicidade
Para a Verizon, em um primeiro momento, a pandemia causou impactos no modelo de negócios da companhia. Porém, no quarto trimestre de 2020, a empresa cresceu dois dígitos. “Nos recuperamos com muita força. E, isso se deve a nossa estratégia. Se você olhar para trás, há dois ou quase três anos, quando dissemos que uma das nossas ideias era diversificar a receita por meio da divulgação de assinaturas, você vê nossa evolução”, disse Guru. O anúncio é uma parte muito importante da atuação da Verizon: “Houve uma queda no início da pandemia, mas a boa notícia é que o mercado de propaganda que está crescendo”.
O modelo de negócios do Guardian começa com sua missão, seu propósito, afirmou Annette. “O nosso jornalismo visa criar clareza e esperança, por meio de reportagens investigativas independentes. E, esse é realmente o ponto principal para tudo o que fazemos, tanto editorialmente quanto comercialmente. Por causa disso, temos um público muito fiel e vimos níveis de tráfego recordes, durante o ano passado”, afirmou. O Guardian passou a desenvolver parte de seu negócio junto aos leitores, pedindo para eles contribuíssem e apoiassem o jornalismo. “O que é realmente importante em tudo isso é que decidimos manter o jornalismo aberto. E, a razão para isso é que acreditamos que o jornalismo tem tanto poder e impacto que deveria estar ao alcance de todos”.
Se você olhar para as condições macroeconômicas, a liquidez e a confiança do CEO ficaram altas, explica Michael: “O cenário vai garantir que o mercado de mídia esteja certamente em um lugar estável”. Segundo o profissional, a história mostra que, sempre, quando a indústria saiu de evento recessivo ou disruptivo, as empresas que aproveitaram a oportunidade para investir e inovar melhoraram de situação muito mais rápido do que outras companhias. “Sinto confiança no comportamento do usuário e nas empresas de mídia que aproveitaram essa oportunidade para investir e inovar, no ano passado”, acrescentou.
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