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Metaverso e o Abismo Social

O que me incomoda bastante nas pesquisas e palestras que vemos por aí, é baseado na realidade de um pequeno grupo de pessoas,


21 de março de 2022 - 9h29

Crédito: Meio & Mensagem

Se fosse feita uma nuvem de tags de todas as palavras ditas nas palestras do SXSW, poderia apostar que Metaverso seria uma das maiores, se não a maior. Muito se falou sobre isso aqui, seja em palestras específicas sobre o assunto, ou nas que não tinham nenhhma relação, seja nas rodas de conversa, nos grupos de whatsapp e até mesmo nas ativações das marcas.

Eu, particularmente, antes de vir para o SXSW tinha um pé atrás com o metaverso. Mas a minha reflexão estava sempre muito baseada na minha própria experiência e nas minhas próprias preocupações. Como mãe de dois adolescentes, sempre pensei no impacto do metaverso na vida das crianças e adolescentes, como seriam as relações entre as pessoas no geral e no mundo meio sem lei que estava se formando. 

Esses dois anos de Pandemia sem dúvida nenhuma acelerou o “viver online”. Seja nas relações de escola, trabalho e até socialmente. Que atire a primeira pedra aquele que não fez um Happy Hour online no começo da pandemia. 

As escolas entenderam a importância de ter aulas online, os professores tiveram que se adaptar rapidamente. Não foi um processo rápido e fácil, foi difícil para os alunos, muito mais para os professores. Alguns queriam que isso acabasse logo e a “vida normal” voltasse logo. Outros, queriam que esse fosse o modelo eterno. Eu, tenho em casa esses dois exemplos. Um filho de 18 anos que não via a hora de voltar a ter contato com os amigos e uma filha de 15 anos que até hoje está sofrendo com o retorno para o modelo presencial. 

Já nas relações de trabalho, está claro que o número de pessoas que quer voltar 100% presencial é muito baixo ou quase nulo. As pessoas entenderam que trabalhar de casa não interfere na sua produtividade e melhora consideravelmente na sua qualidade de vida. Comer melhor, estar mais próximo dos filhos, economia e ganho de tempo não precisando fazer o deslocamento são os principais pontos colocados por essas pessoas quando pesquisadas sobre trabalho presencial x híbrido x remoto.

Mas o que falei até agora, e o que me incomoda bastante nas pesquisas e palestras que vemos por aí, é baseado na realidade de um pequeno grupo de pessoas, bem pequeno. 

Vamos tentar entender o que aconteceu com a grande massa de pessoas durante a Pandemia? 

As crianças perderam 2 anos de estudo. Sem um acesso decente à internet, sem um celular ou computador onde pudessem assistir às aulas. Os professores sem preparo para migrar para esse mundo online, sem treinamento e também sem os devidos acessos. Será que a gente é capaz de imaginar como foi o estudo para essas crianças e adolescentes? Foram dois anos perdidos, dois anos mais atrasados do que as outras crianças. Se essas crianças e adolescentes já estavam alguns passos atrás antes da Pandemia, passado esses dois anos o que o futuro reserva para eles é ainda mais difícil, inevitavelmente.

Já no trabalho, quantas pessoas tiveram o privilégio de trabalhar de casa e ainda assim discutir se preferem seguir assim ou voltar para um modelo presencial? A grande maioria das pessoas precisaram sair de casa para trabalhar, mesmo no auge da pandemia. Foram elas, inclusive, as que mais sofreram com a COVID-19. O trabalho híbrido ou remoto não é uma opção e os ganhos em qualidade de vida não são uma realidade para eles, definitivamente. Estar mais próximos dos filhos, acompanhar seu crescimento e seus estudos não é uma realidade.

Já com tudo isso em mente, eu queria que a gente pensasse sobre marginalização. A marginalização não é apenas econômica. Ela é também social, cultural e até política. E diante de tudo que tenho visto por aqui e também antes mesmo de vir pra cá, cheguei a conclusão que, de alguma forma, estaremos aumentando a marginalização das pessoas. Será um misto de marginalização social, cultural e econômica. 

O metaverso não será acessível assim como uma boa internet ainda hoje não é! Estar lá para encontros de escola, profissionais ou sociais será um privilégio para poucos. Mas apesar de poucos, serão as pessoas com mais poder aquisitivo e isso faz com que os poucos sejam a maior representação. Parece estranho, né? É realmente estranho mas é assim em tudo, essa é a nossa realidade. 

Espero e realmente acredito que tenham empresas buscando diminuir esse abismo. Mas está claro que não é o foco, o foco é sempre o potencial de geração de negócios. Mesmo quando ouvimos falar sobre o quanto o Metaverso pode ajudar nas questões de diversidade, ainda assim, estamos privilegiando as pessoas com maior poder aquisitivo. 

Será possível que as evoluções aconteçam voltadas com o olhar de fato inclusivo e não mercadológico? Será possível que enquanto não servir para todos, não deveria servir para ninguém? 

É importante que essas conversas se encontrem. Não é possível mais que a gente aceite que as empresas desenvolvam produtos, serviços, inovação se elas não foram acessíveis, se elas não forem, de fato, inclusivas. 

Queria ter visto isso, queria sair daqui com o coração quentinho de pensar que no futuro estaríamos nos aproximando. Mas confesso que saio com o estômago embrulhado, com a sensação de que estamos nos distanciando cada vez mais. Não só do contato físico, que também é uma realidade, mas do ser-humano mesmo, aumentando mais ainda o abismo social que já existe.

“You may say I’m a dreamer…..”

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