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Desacelerando o futuro 

Meu pequeno guia do que ver em construção


11 de março de 2022 - 16h41

Gustavo Frazao – shutterstock

Quando se trata do que vem pela frente, temos a tendência inata de sermos otimistas. Idealizamos o futuro como uma possibilidade de melhorar algo que vivemos hoje. A
esperança é um combustível humano tão importante no que diz respeito as dificuldades que temos que lidar no presente. Seu valor está muito mais em dar uma resposta que se faz necessária agora do que qualquer compromisso com o amanhã.

Concordando ou não, o fato é que ser esperançoso tem mais a ver com um recurso para lidar com problemas do momento e que são aparentemente intransponíveis. Pode, também, ser uma fagulha de motivação
para uma inovação futura, mas isso é, totalmente, secundário. Serve pra trazer conforto para momentos difíceis sem nenhum
demérito nisso.

Agora, olhar o futuro como tendência, fazendo previsões acertadas, com embasamento tem muito mais a ver com a capacidade de e olhar para evidências factuais e perceber a realidade tal qual ela é. Sem
viés, sem romantizar, nem idealizar. O futuro, do ponto de vista da inovação, nada mais é do que o resultado de uma equação
com variáveis do passado. A análise preditiva séria é estatística, lógica e científica. Não há espaço para o hype, emoção empolgada ou euforia afetada.

Prever o que vem lá na frente está muito mais comprometido com o passado do que se possa imaginar e, talvez, seja muito menos estimulante do que se tentar impor.

Quantas pessoas foram capazes de prever a crise imobiliária de 2008?

Quem apostaria no pessimismo e contra o mercado para lucrar com o futuro?

O mercado vive de um nível de crescimento cada vez menos correspondente com a realidade e com uma abstração dependente de um suposto potencial futuro.

Isso é um viés tão forte no mercado que poucos tiverem a capacidade de olhar para um dado tão evidente de bolha, um mercado futuro inviável, totalmente descolado da realidade. Entretanto, os dados sempre
esteve lá.

Essa tal de euforia ao olhar para o futuro com uma expectativa desproporcional a realidade dos fatos é mais um efeito colateral dessa realidade. Não tem nada a ver com aquele sentimento nobre e humano
que chamamos de otimismo ou esperança. Isso porque essa emoção afetada não está em função de um futuro melhor do mundo,
mas trabalha para o crescimento exponencial de apenas um Vale.

Muitos negócios da nova economia desafiaram o status quo de negócios estabelecidos e sucederam nisso, mas o quanto isso, de fato, contribuiu para uma sociedade com um futuro melhor?

Se beneficiar com a tecnologia para dar resultados aos acionistas a custas da degradação da mão de obra, da democracia, da privacidade.

Ontem o motoboy, hoje a democracia, amanhã você.

Por isso, olho com desconfiança quando identifico um certo fetiche pelas soluções do futuro. Ainda mais quando vem acompanhada de uma promessa de crescimento em progressão geométrica. Embrulhada por
novos clichês usados como fórmula para qualquer contexto, “erre rápido, aprenda rápido”, num artigo tipo top Voice mais perto de você.

A velocidade que se pretende imprimir ao futuro está em função de manter um consumo cíclico que dependa do protagonismo de se manter na última versão tecnológica. No entanto; o aceleramento da inovação,
possível pela tecnologia, está em descompasso com o tempo que a sociedade precisa para absorver algo como um benefício de fato. Só
recentemente estamos atuando e regularizando as mídias sociais em relação ao dano potencial para a democracia. Ainda assim, com muita dificuldade.

Esse é meu maior interesse nessa edição do SXSW. Evento que demorou mais que o esperado dado a realidade que se impôs com a pandemia.

Nesse ano, o Metaverso, que já vem ensaiando um protagonismo, parece ganhar contornos cada vez mais tangíveis. Ao que tudo indica, mesmo com a tecnologia aí disponível, ele deve se viabilizar de uma
forma muito mais lenta do que se imagina. Isso por conta de questões éticas, legais, viabilidade econômica. Você pode dizer
que o Metaverso já existe em experiência imersivas no universo dos games, mas ainda está longe do potencial que se espera entregar nele.

Que tenhamos tempo para tirar o melhor proveito dele. Olhar a tecnologia como um viabilizador de uma sociedade melhor é o tema que me interessa mais nesse festival de 2022 de Austin.

É nesse sentido que meu guia do que ver começa a ser desenhado. Segue o fio:

Featured Speacker: Jason Ballard – Fundador da Icon.

Tem dedicado sua vida trabalhando em solucionar grandes problemas da humanidade, mais recentemente na ICON, empresa de tecnologia de impressão 3D em construção habitacional.

Featured Speacker: Dario Calmese – The Institute of Black Imagination.

Artista performático que usa seu conhecimento sobre movimento, gesto e psicologia para criar personagens complexos em narrativas que exploram história, raça, classe e o que nos torna quem somos, humanos.
Featured Speaker: Dr Albert Bourla – CEO da Pfizer.

Como a ciência pode acelerar um processo afim de salvar milhares de vidas e ter um impacto sanitário mundial. (Nesse tópico ainda me interessa a questão da quebra das patentes para que mais pessoas
possam ter acesso a vacina).

Featured Speaker: Kathryn Paige Harden – Professora de Psicologia Na Universidade do Texas

Falará sobre como ter sucesso profissional pode estar ligado muito mais a uma “loteria genética”.

Featured Session: Vlad Tenev – CEO e Fundador da Robinhood.

Sobre a cultura financeira e o futuro do investimento como centro de uma revolução no segmento.

Featured Session: Margrethe Vestager & Sara Eisen.

Apesar do grande benefício que a conectividade trouxe, como os algoritmos tem contribuído para uma extrema polarização na sociedade e uma, consequente, enfraquecimento do nosso senso de humanidade.

Esse é a linha que devo seguir acompanhando nessa que será minha estreia presencial no festival. Aguardem, com calma, por mais novidades sobre como o futuro em marcha lenta pode nos beneficiar. Empolgou?
Então, desconfie.

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