Como foi o primeiro dia de SXSW
Evento mais vazio, emoções à flor da pele e palestrantes incríveis
Evento mais vazio, emoções à flor da pele e palestrantes incríveis
12 de março de 2022 - 15h11
A primeira sensação que tive em Austin esse ano foi de um evento mais vazio. Geralmente, a manhã do primeiro dia do festival é mais tranquila e a tarde já fica agitada, mas a calmaria do começo desta sexta-feira se estendeu até a noite. Era de se imaginar que com a pandemia e a possibilidade de acompanhar o evento online deixaria o festival um pouco mais tranquilo. Se por um lado há uma estranheza de não reconhecer o evento lotado de anos atrás, por outro existe uma vantagem enorme em conseguir ver as coisas com mais calma e menos gerenciamento de filas. Sorte de quem veio a primeira vez esse ano!
A segunda sensação que me chamou a atenção foi o quanto as pessoas estão se abrindo mais, tocando em tópicos importantíssimos e sensíveis nas perguntas aos palestrantes. E esses estão não só respondendo à altura mas se emocionando e também colocando em pauta assuntos difíceis. Hugh Forrest, Chief Programing Officer do festival, abriu o dia falando sobre as novidades do evento mas focado em se posicionar com preocupações sobre a situação da Ucrânia e também sobre o que está acontecendo com as medidas anti-trans e antiaborto no Texas. Se emocionou falando sobre Eddy Zheng, um dos palestrantes do fim de semana com uma história tocante, e se orgulhou do evento dizendo que “inspirar é uma das coisas que eu acho que fazemos muito bem no SXSW”.
E com palestrantes como os de hoje não tem como não ser inspirado. Priya Parker, autora do livro “The Art of Gathering” foi o primeiro keynote do festival – o que faz todo sentido já que a volta dos eventos presenciais é uma grande questão em pauta esse ano. Logo no começo ela explica a importância deles: “não nos reunimos apenas para escapar. Nos reunimos para nos envolver. Não nos reunimos apenas para comemorar. Nos reunimos para lamentar e tentar dar sentido ao que está acontecendo no mundo neste momento. Qual é o meu papel nisso? O que é normal? O que é anormal? Que linguagem eu uso para tentar entender o que está acontecendo do outro lado do mundo? Como faço para entender o que está acontecendo na comunidade, no estado, neste país e neste mundo e qual é o meu papel nisso?”
Em seguida, Scott Galloway, conhecido por gostar de causar polêmicas, jogou na mesa várias posições contrárias a inovações consideradas o “hype” atual. Turismo espacial? “Ideia ridicula”. Web3? “Não há o power to the people, só um novo tipo de concentração de poder”. Metaverso? “Oculus será o maior fail em hardware da última década”. E todas essas opiniões vêm acompanhadas de argumentos estruturados – e também de possíveis desfechos, o que torna a apresentação dele uma das mais interessantes do dia. Sobre o Metaverso, Galloway diz que ele já acontece através dos nossos celulares e principalmente dos Airpods. Ele se refere a eles como o “grande portal” para o metaverso. “Eu não acho que será visual. Eu acho que o Metaverso será menos como ‘Matrix’ e mais como o filme ‘Her’”, diz ele. Mas depois de falar, falar e falar, Scott Galoway se viu sem palavras ao receber uma pergunta de um pai de uma pessoa trans sobre o seu papel como homem hetero cis, privilegiado, ao usar roupas femininas em algumas apresentações. Visivelmente emocionado, ele pensou bastante e disse que achava que isso seria positivo para a comunidade, e não negativo. Mas disse que independente do que ele pensava, ele percebeu que o relato desse pai era extremamente sincero e que não iria mais agir dessa forma. Quem estava presente sentiu o quanto impactante foi essa troca – para o público e para os envolvidos.
E continuando com as emoções: a estreia do primeiro episódio de Atlas of The Heart, nova série de Brené Brown no HBOMax, foi um dos pontos altos do dia. A exibição foi seguida de um Q&A com a escritora e pesquisadora. O seriado, que foca em falar sobre sentimentos de uma forma extensa e didática, orientando a importância de sabermos nomear o que sentimos além da alegria, tristeza e raiva, tocou muita gente na platéia e isso foi visível nas perguntas. Foram abordados temas como Rússia, Asian Hate, geração Z, como fazer estudantes compartilharem mais, entre outros. Eu mesma me senti à vontade para fazer uma pergunta sobre liderança com sensibilidade em tempos de trabalho remoto – e aproveitei pra falar que tinham muitos brasileiros na sala pra vê-la! Ela não só respondeu minha pergunta de um jeito super bacana, mas também soltou no final um “I love Brazil” – que adorei pois acho que a delegação brasileira merece! Porque o Brasil ama o SXSW, Brené. Por todos os sentimentos que ele trouxe pra gente hoje, também.
Que venha o dia 2!
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