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Reperception

Meu copo meio cheio


15 de março de 2022 - 11h33

Crédito: Thais Monteiro

Receba! De todas as porradas na mente que já tomei no SXSW 2022, até agora, nenhuma bateu mais forte que a apresentação de Amy Webb, fundadora do Future Today Institute. Figurinha carimbada no festival, com palestra concorrida a cada edição, ela costuma refletir os próximos anos do mercado e sociedade (como ecossistemas indissociáveis que são) com altas doses de criticismo e uma incrível mistura entre acidez e lucidez.

Para começar, poderíamos gastar aqui uns cem mil caracteres (cabe tudo isso M&M?) para dissecar as tão aguardadas tendências do Tech Trends Report 2022. Mas, muitos jornalistas e colunistas já facilitaram esse rolê pra gente. O relatório é lançado anualmente no evento e, dessa vez, Amy destacou a ambiguidade de três temáticas urgentes: os sabores e dissabores da inteligência artificial, do metaverso e a biologia sintética.


Tá Pipo, mas então onde tá a marretada? Me pegou em cheio o termo “reperception”, traduzido em português para o neologismo “repercepção”. Segundo a própria fala de Amy no South By Southwest, o conceito é o seguinte: “A ‘repercepção’ é a essência da criatividade, do empreendedorismo e da inovação, e a qualidade essencial de bons líderes. Não é sobre prever o futuro, mas sobre lidar com a ambiguidade e a incerteza para tomarmos melhores decisões hoje”.


E por que isso é tão relevante? Esse termo nos tira o imenso peso de querer prever o futuro, essa angústia que muitas vezes nos paralisa, e então nos convoca para “reperceber” o horizonte ambíguo e construir um futuro melhor a partir de um cenário real, apesar de todas as inúmeras possibilidades. E qual é a grande reflexão aqui? Apesar do SXSW ser muitas vezes sobre o futuro, há algo muito mais importante do que prever. Esse algo é “repercepção”. É interpretar e reinterpretar o contexto o tempo todo para tomar decisões coletivamente mais assertivas, do ponto de vista social e mercadológico.


E para que isso seja possível, é preciso estar preparado para a possibilidade de um futuro diferente das nossas expectativas atuais, com todos os seus ônus e bônus, decodificando e atuando em seus vícios e virtudes.


Diante de tudo isso, apesar de o medo e a incerteza estarem organicamente inseridos nessa pauta de ambiguidade futurística, eu enxergo o copo meio cheio. Porque esse talvez seja o ponto em que entendemos que não se pode conhecer tudo o tempo todo, e que mais importante que a sensação da certeza é estar pronto para o incerto. “Não precisamos estar preparados para tudo. Mas precisamos estar preparados para qualquer coisa”, finalizou Amy, no palco do Convention Center.


Falando em copo meio cheio e porrada, lembrei aqui de uma reflexão do Bruce Lee, o eterno mestre do Kung Fu, para encerrar esse texto: “se adapte, seja água!”.

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