Sem pedir licença
O mundo está mais aberto para lidar com essas características e nós, mulheres, estamos mais conscientes de que podemos alcançar a nossa régua de sucesso
O mundo está mais aberto para lidar com essas características e nós, mulheres, estamos mais conscientes de que podemos alcançar a nossa régua de sucesso
11 de março de 2019 - 13h01
Meu primeiro dia no SXSW foi intenso e revelador sobre o festival. Primeiro, porque coincidentemente o tema igualdade de gênero esteve presente nos painéis e sessões que escolhi acompanhar, com diferentes vieses e interpretações.
O dia começou com uma sessão de Suzan Fowler, eleita uma das 10 personalidades mais influentes no mundo da tecnologia e que hoje trabalha para o New York Times. Há dois anos, ela era engenheira de softwares do Uber e, cansada dos abusos consistentes da empresa, abriu a caixa de Pandora sobre o ambiente tóxico que vivenciava. Foi a primeira vez que ela falou publicamente sobre o assunto e o embargo na voz deixou seu relato ainda mais verossímil e entristecedor.
Como uma empresa, que representa todos os valores da nova economia, conseguia ser tão maléfica para os talentos que lá estavam? Como a lógica de quebrar todas as regras e regulações nos mercados onde entra pode ser extrapolada para a forma como tratava as pessoas, especialmente as minorias – mulheres, negros, latinos, entre outros?
O recado que fica para nós, mulheres do mercado, é que mudar um sistema, com um script culturalmente escrito e praticado há milhares de anos, não é tarefa fácil (nem rápida). E que apesar de, muitas vezes, prevalecer a sensação de que nada está efetivamente mudando, há sempre a esperança em vozes como a de Suzan, que toparam gritar para o mundo uma realidade velada e ainda voltar ao trabalho na sequência. No seu relato, ela fez questão de frisar que nunca teve a intenção de ser uma ativista, mas que tem a dimensão de que a sua história impactou positivamente milhares de mulheres que vivem em situação de abuso na indústria da tecnologia.
Na última sessão do dia, um contraponto interessante foi a de Catherine Connors, uma cientista social canadense que publicou o livro “The Feminine Revolution: 21 Ways to Ignite the Power of Your Femininity for a Brighter Life and a Better World”, em que ela ressignifica características culturalmente associadas ao feminino e as transforma em superpoderes. Algumas delas são clássicas, como por exemplo, ser emocional, ser maternal e demonstrar vulnerabilidade.
A reflexão é a de que o mundo – mesmo corporativo -, está mais aberto para lidar com essas características e nós, mulheres, estamos mais conscientes de que podemos alcançar a nossa régua de sucesso, da nossa forma, sem nos envergonharmos, pedirmos desculpas ou licença.
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