Os desafios do consumer centric para o mercado financeiro
Bancos tradicionais buscam aprimorar a comunicação one to one e fintechs se esforçam para ir além com blockchain e IA
Bancos tradicionais buscam aprimorar a comunicação one to one e fintechs se esforçam para ir além com blockchain e IA
Isabella Lessa
18 de março de 2019 - 15h50
Além de ‘Blockchain & Criptocurrency’ – track que discutiu ideias e políticas sobre moedas digitais e o impacto da tecnologia sobre modelos de negócios – o SXSW deste ano discutiu algumas pautas centrais para o mercado financeiro. A inteligência artificial e a evolução do uso ético de dados para o consumidor, a acessibilidade e a descentralização são alguns dos desafios vivenciados tanto pelos bancos tradicionais quanto pelas fintechs.
O maior desafio dos bancos hoje, diz Juliana Cury, superintendente de marketing do Itaú Unibanco, é o tamanho. Seja pela complexidade do negócio, pelo número de clientes ou pelo portfólio de produtos oferecidos, os bancos precisam lidar com uma quantidade enorme de informações para aplicá-las de maneira proativa junto ao consumidor. “O maior desafio para os bancos está no melhor dos pontos dos grandes bancos: seu tamanho, seu resultado e a complexidade do portfólio de produtos. É preciso ter uma quantidade mais proativa, que ofereça produtos que façam sentido na jornada das pessoas, individualizar mais a comunicação. Ao mesmo tempo, instrumentalizar tecnologicamente será uma tacada certeira porque as pessoas estão predispostas a se relacionar”, explica.
Além da complexidade, Isabel Atherino, head de marketing da Rebel, uma fintech de empréstimo pessoal online, também vê a burocracia como um grande entrave para as grandes instituições bancárias. “A concentração bancária em poucos players no Brasil contribuiu para que grandes bancos se acomodassem nos seus serviços e produtos, acabassem tomando menos riscos de ter produtos e serviços diferenciados e atender uma população que hoje não é atendida pelo sistema financeiro tradicional”, afirma. Nesse contexto entra a grande oportunidade para o avanço das fintechs, que geralmente concentram-se em um único produto e baseiam-se fortemente em dados e machine learning para garantir que a necessidade do consumidor seja suprida da melhor maneira. No caso da Rebel, os empréstimos são concedidos de maneira personalizada: são analisadas mais de 2 mil variáveis por meio de machine learning e inteligência artificial para determinar uma parcela específica que a pessoa seja capaz de contratar e pagar. “Existe uma necessidade latente por produtos e serviços melhores, mais baratos. Em relação aos bancos, as fintechs conseguem se mover com mais agilidade para construir esses produtos user centric”, diz Isabel.
No caso de Itaú, a busca pelo one to one tem sido intensificada dentro da própria organização em um movimento liderado por Cândido Bracher, CEO da empresa. O executivo redigiu uma carta e enviou um áudio de WhatsApp a todos os funcionários pra engajar toda a equipe a concentrar esforços na comunicação centrada no cliente. Esse processo interno desembocou na atualização da comunicação do banco, que apresentou a assinatura “O que você está buscando”, aposentando a frase “Feito pra você”, utilizada nos últimos 20 anos. “Esse não é um momento só de marca e de comunicação, mas uma transformação dentro do banco para colocar o cliente no centro de todas as decisões tomadas, romper com o status quo das coisas que não giram em torno do cliente”, ressalta Juliana. Segundo ela, esse é um processo que está acontecendo em todas as instâncias, do estagiário que questiona o que não está certo ao trabalho conjunto da área de marketing em torno de decisões orientadas ao cliente. A nova assinatura, criada com a Africa (que divide o atendimento de Itaú Unibanco com a DPZ&T), explica a profissional, transmite a ideia do esforço do banco em entender a dor do cliente atual e como resolver isso. “Estamos preparando o banco para os próximos dez anos. A comunicação chama para a conversa, mostra que a gente está muito aberto, atento aos movimentos, fazendo perguntas diferentes para cada um”, detalha.
Do lado das fintechs, a próxima fronteira, de acordo com Isabel, está em como conseguir explorar as muitas possibilidades de camadas e construção do blockchain em benefício do cliente. Além disso, ampliar a oferta de serviços para a parcela da população que ainda não é atendida pelo sistema financeiro. “Cerca de 40% das pessoas não têm conta bancária no Brasil. Um terço da população dos EUA também não tem. Existe uma oportunidade de levar serviço financeiro para essas pessoas melhorando a interface e entendendo o consumidor”, salienta ela, acrescentando que uma das estratégias para a compreensão das necessidades do cliente é trazer profissionais que vêm de outros mercados. Com experiência prévia no mercado de cosméticos e moda, Isabel diz que consegue trazer um olhar mais apurado sobre as demandas do cliente da Rebel.
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