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É possível trabalhar com o que se ama sem ter um burnout?

Nataly Kogan, fundadora e CEO da Happier, baseia-se em experiência própria para recomendar maneiras que outros profissionais não sofram da síndrome

Giovana Oréfice
15 de março de 2022 - 20h55

A fundadora e CEO da Happier, startup que tem como objetivo fortalecer habilidades emocionais, viveu um dos maiores paradoxos de sua carreira ao sofrer um burnout na gestão de sua empresa. Nataly Kogan se deu conta da situação em que se encontrava quando percebeu que estava vivendo em uma relação tóxica com o seu trabalho — assumindo que, por muito tempo, não teve a coragem de encarar isso como um fato. “Quando eu digo que sofri um burnout eu me refiro a um breakdown. [..] Eu simplesmente não funcionava mais como uma CEO, como uma mãe — o que machuca muito dizer”, relembra em uma apresentação durante o SXSW. 

Nataly Kogan: “Não existem super humanos aqui. Sermos humanos já é difícil o suficiente” (Crédito: Giovana Oréfice)

Um dos entendimentos que ela tirou do momento foi de que o fator responsável pelo burnout não foi apenas a quantidade de trabalho, mas sim a relação que vivia com o negócio, em que todo o seu tempo e atenção eram dedicados a apenas um enfoque da vida: o profissional. Para repassar a outras pessoas a experiência, e também auxiliá-las de modo a não sofrerem o mesmo, Nataly escreveu o livro The Awesome Human Project: Break Free from Daily Burnout, Struggle Less, and Thrive More in Work and Life.

“A maneira que eu descreveria a minha relação com meu trabalho antes do burnout, e eu pensei muito sobre isso, seria codependente”, afirma Nataly. “Codependência na psiquiatria é uma relação em que um ou dois iguais são emocionalmente ou fisicamente dependentes de uma pessoa”, detalha. 

À audiência presente em um dos salões do JW Marriot, a empreendedora deu cinco sugestões para que o burnout seja evitado através de uma relação saudável entre vida pessoal e profissional:

1.Seja honesto sobre a sua relação com o trabalho

Como todas as relações, até mesmo as interpessoais, a honestidade é essencial. Nataly chama a atenção para o fato de que este deve ser um exercício diário, e não apenas algo momentâneo. Ela recomenda que seja feita uma espécie de checklist do que está acontecendo em tal relação — sejam coisas boas, ou não. “A consciência é muito poderosa, ela nos dá escolhas”, diz. Também conta que um dos maiores erros que cometeu quando sofreu burnout foi não praticar ter consciência e refletir sobre tal relação.

2. Administre sua energia

Nataly ressalta que somos todos seres humanos, e não máquinas — o que, conforme ela brinca, também precisam de energia para funcionar. “Não existem super humanos aqui. Sermos humanos já é difícil o suficiente”, comenta. A recomendação envolve refletir sobre o que fazemos para recarregar as energias, mas também reconhecer que tipo de ações nos esgotam, a fim de diminuí-las. Como exemplos, ela cita exercer muitas tarefas de uma vez e até mesmo passar muito tempo nas redes sociais. 

A CEO ainda admite que detesta a definição atual de autocuidado em voga na sociedade, que remete a luxo ou presentes, ou até mesmo de que basta um chocolate e um tempo a sós para cuidar de si mesmo, relembra Nataly em relação à mensagem de um comercial de TV que assistiu certa vez, ao citar que é preciso encontrar maneiras de recarregar energia tanto mental quanto fisicamente — e isso sim se classifica como autocuidado. Ela compara a atenção que damos a nossa energia a quando vemos que o carro está sem gasolina: paramos no posto e, então, abastecemos o veículo. Por que não fazer o mesmo conosco?

3. Não dependa do trabalho para te completar

O âmbito profissional não é o único da vida que merece atenção (e nem deve). “Eu amo o que eu faço, mas é apenas um trabalho. Tenho certeza de que muitos de vocês realmente se importam com o trabalho, que ele dá muita satisfação, mas é um trabalho!”, adverte. “Seu trabalho deve ser significativo, satisfatório, trazer alegria, mas existem outras partes da vida que merecem sua atenção e que te tornam completos”.

Após ter burnout, Nataly passou a dedicar um tempo para pintar — algo que sempre quis fazer, mas que alegava nunca ter tempo por conta do trabalho. Atualmente, ela reconhece que é um investimento de que precisava. Por isso, recomenda que o público encontre atividades para aproveitar o tempo fora dos empregos. “Vocês sabiam que a identificação excessiva é um dos maiores causadores do burnout?”, questiona. 

4. Não espere perfeição de você mesmo ou de seu trabalho

Aproveitar-se da habilidade de adaptação cerebral que nos torna humanos é uma das chaves para entender que limites, tanto físicos quanto mentais, são necessários. Nataly ressalta que é preciso estar atento às lentes com as quais encaramos nós mesmos e nossa vida profissional. Além disso, aponta que nosso cérebro tende a pensar em coisas negativas para se proteger, quase como um instinto natural que temos como animais. Contudo, “não estamos aqui para sobreviver, e sim, para viver”, reforça.

5. Estabeleça limites claros

No sentido mais literal da expressão, limites impostos são importantes para que o cérebro associe que pausas — sejam durante ou após o trabalho — são necessárias. Sobretudo para aqueles que estão trabalhando em regime de home office, estabelecer limites físicos é importante. “Seja a força que para a inércia”, recomenda Nataly, comparando o trabalho ao fenômeno da física. Kogan fala também que o cérebro humano precisa de pausas a cada 45 minutos. Ao fim do expediente, procure fazer outras atividades, como caminhar, ou até mesmo passar um tempo com a família.

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