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Amy Webb: “Não tente prever o futuro, não vale a pena”

"Não tente prever o futuro, mas intercepte seus sinais logo", disse a futurista


17 de março de 2021 - 17h19

A primeira edição após o início da pandemia do South by Southwest (SXSW), maior evento de inovação do mundo, nascido em Austin (EUA), inaugurou o formato 100% online, conectando líderes, visionários, artistas e criativos de todo o mundo entre os dias 16 a 20 de março.

Como em outras edições, uma das apresentações mais esperadas foi a da futurista Amy Webb, professora da NYU Stern School of Business, fundadora do Future Today Institute e autora de “Big Nine: How The Tech Titans and Their Thinking Machines Could Warp Humanity” (ainda sem tradução para português), entre outros títulos de referência sobre tecnologias emergentes.

Amy Webb (Crédito: Rich Polk/GettyImages)

No mesmo mês em que a pandemia completa um ano como um evento global de proporções inesperadas, o recado de Amy é uma alerta para qualquer tentativa de previsões à prova de mudanças: “Não tente prever o futuro. Não vale a pena. Prepare sua organização para fazer as melhores escolhas”.

Para ela, é preciso ler os sinais deixados pelo desastre após março de 2020, interceptar essas pistas precocemente e saber agir no momento certo. “Devemos ser flexíveis, deslizar na incerteza, mas não podemos fazer isso às cegas”, afirma Amy.

Especialista em métodos quantitativos de análise e em produção de cenários de futuro, Amy defende a correlação entre dez macro forças (como distribuição de riqueza, saúde pública, educação e mídia), a tecnologia infiltrada em todas as dimensões da vida atual e a presença de sinais mais fortes ou mais fracos de mudanças. Em sua metodologia, que ela chama de “Roda da Disrupção”, a combinação desses fatores pode determinar uma tendência para o futuro. Ela esclarece: não uma previsão de futuro, mas uma tendência que pode sofrer o impacto das decisões tomadas hoje.

Como ponto de partida para se preparar para o futuro, Amy estabelece três perguntas fundamentais que as organizações devem se fazer: Quais são as tensões? Quais são as premissas? E quais são as resoluções (para onde queremos ir)?

Para ilustrar esse caminho, a futurista destaca em três grandes blocos suas descobertas recentes sobre tecnologias emergentes, que incluem: smart glasses que fazem chamadas telefônicas; celulares com telas expansíveis; cobertores que regulam a temperatura corporal e melhoram a qualidade do sono; lixeiras com scanners para reposição automática de produtos; óculos que removem objetos e pessoas indesejadas de cena; vestidos de noiva digitais para fotos de redes sociais; passaporte digital de vacinados; impressora de DNA; entre outros produtos e serviços que já estão no mercado e nos fazem reviver no mundo real os episódios mais vertiginosos da série inglesa Black Mirror.

Amy não apenas mapeia sinais e tendências, mas analisa suas consequências sociais e éticas a longo prazo por meio de exercícios de cenarização. “E se os óculos que removem objetos e pessoas indesejadas começarem a ser usados para tornar invisíveis mulheres a partir de uma certa idade?”, questionou uma espectadora do evento. “Ou moradores de rua”, problematizou Amy também.

Nesta edição, ela escolheu apresentar apenas dois tipos de cenário de futuro: o Catastrófico e o Transformador. No primeiro, em algumas décadas, não existirão mais atendimentos médicos como conhecemos: seu corpo será monitorado 24 horas por dentro. Até seu vaso sanitário será escaneado. Se você for rico, você terá seus dados protegidos. Mas seu plano de saúde poderá monitorar seus hábitos e, a partir deles, decidir aumentar o custo do seu pacote. Sua cama não te deixará tirar a soneca da tarde, vai detectar que você não está sendo produtivo e aumentar o calor para te expulsar. “Neste cenário, seu corpo não será um paraíso, será uma prisão”, resume Amy.

Já no cenário Transformador, as organizações tomarão decisões com base em modelos analíticos que mostrem cenários plausíveis de futuro. Antes de lançar um produto ou um serviço no mercado, será analisado o impacto dele na sociedade a longo prazo em termos sistêmicos.

Desta vez, ela preferiu não apresentar o cenário otimista. E deixou claro o motivo: “Porque o cenário otimista é tomar atitudes hoje”, concluiu Amy.

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