Publicidade

Um olhar além do muro da China: tecnologia, cultura e usabilidade

Cada vez mais, empresas ocidentais buscam inspiração em tecnologias chinesas


17 de março de 2021 - 19h52

Imagine a vida sem Google, Facebook ou Netflix. Agora, imagine um país que é o primeiro em número de usuários online e em tecnologia do mundo, que curiosamente tem mais foco em objetivos coletivos do que individuais. Estamos falando da China.

(Créditos: Manuel Joseph/Pexels)

Cada vez mais, empresas ocidentais buscam inspiração em tecnologias chinesas. Ponto interessante, uma vez que a sua própria muralha digital desenvolveu um conceito de retrofit, necessidades básicas como busca, mídias sociais e entretenimento. Serviços globais de sucesso foram recriados para sua audiência, de Google a Baidu, de Twitter para Weibo e de Youtube para Youku, entre outros. Mas esses sistemas não foram apenas reproduzidos copiosamente. O governo entendeu que existiam oportunidades para enxergar as coisas em um nível sistêmico e investir em determinadas tecnologias. Há muita colaboração nesse sentido. Mas por que investir em um Wechat, por exemplo? Porque todo mundo está nele. Sendo assim, seria o melhor lugar para propor funcionalidades que todos procuram, como pagar contas e pedir carros.

Isso abre margem para um novo conceito de aplicativo e de jornada do usuário. Estamos falando dos super apps.

É claro que existem diferenças culturais entre o mundo oriental e ocidental, determinando padrões comportamentais. O mindset ocidental tem tendência mais individualista em relação aos seus objetivos, enquanto o oriental tem um foco maior no relacionamento e no coletivismo. Se sentem parte de um todo, afinal são 1.4 bilhões de pessoas em um governo centralizador. A “vigilância” e controle são entendidos como um pequeno sacrifício orientado a segurança e proteção de todos. E, a grande maioria, subentende que não há nada para esconder. Se comparado com nossa cultura ocidental, há uma enorme diferença, uma vez que somos baseados na liberdade individual: onde temos uma questão recente em relação a nossa proteção e segurança dos dados.

Um exemplo claro de como a tecnologia foi determinante: a velocidade de atuação em relação ao covid-19. O governo teve ação rápida e efetiva a respeito de foco e de comunicação com a população. Quando você faz parte de um todo, todo mundo se adapta em relação a coexistir e ter sucesso numa causa. Decisões em grupo são empáticas e ninguém é menos importante que ninguém.

Essa característica é tão evidente de pessoa para pessoa que até as marcas se comunicam com os usuários no WeChat em contato direto, como se fossem amigos que trocam número, endereço e detalhes pessoais. Em um dos e-commerces mais acessados, o Taobao, há uma grande influência em conversas diretas. O usuário está no mesmo nível da marca. E isso inclui influenciadores, promoções e conteúdo proprietário. A presença digital e serviço ao usuário são primordiais.

No ocidente, como citado acima, aplicamos um conceito muito claro de Discovery, que tem por objetivo investigar novas tecnologias e aumentar os limites de determinados conceitos. Na China, existe um processo claro de Application: usando tecnologia para uma causa específica, ou uma intenção prática. Eles possuem uma visão clara do que fazemos e conseguem implementá-la de uma forma que previne erros e tentativas falhas. São sistemas de entrega já aplicados com nossos aprendizados, com uma velocidade maior devido a seu controle de base. E isso leva a um padrão comportamental de comodidade: toda informação centralizada em apenas um lugar. QR Code e Reconhecimento Facial são deliberadamente utilizados por todos em todos os lugares. Marcas de hardware fazem praticamente tudo, permitindo interações com IOT (internet of things) sem dificuldades. Assim surge o conceito de super app.

É uma raridade não encontrar um planejamento estratégico que considere as seguintes etapas de um produto: descoberta da marca, consideração, compra e pós-venda, sustentado por ações em diversos canais como Google, Instagram, YouTube e, por fim, o canal de conversão do varejista. Na China, toda essa jornada é feita em apenas um canal, como o Taobao. Ele oferece todo um aparato de entretenimento que é absorvido como uma “mídia social” pelo usuário. Ele contém funcionalidades populares que atendem ao perfil completo do usuário.

Quando se pensa em criar determinado produto ou marca, o racional vem de cima para baixo: porque eles devem deliberadamente respeitar uma estrutura que já existe, considerando as necessidades de privacidade. Isso impacta também na forma em que as soluções são concebidas. Aqui, nós partimos de um contexto individual, então nossa forma de se conectar passa a ser explícita e direta. Na China, existe uma questão de alto contexto que exige uma comunicação mais implícita e carregada de elementos visuais. Basta comparar o site do McDonald’s de cada país. Espaço em branco é espaço perdido – densidade de informação e o máximo que puder ocupar. E isso tem um porquê, se observado no padrão de navegação dos chineses. Eles olham por todo o site procurando surpresas e estímulos visuais, e querem menos passos aos seus objetivos, ou seja, tudo que eu preciso numa tela só.

O conceito de UX Design na China ainda é novo, e eles também olham para o outro lado. Assim como algumas companhias ocidentais passaram a “copiar” tecnologias como a do YouTube Shopping, Instagram Shopping e Amazon Live, eles terão também de beber da nossa fonte considerando seu crescimento e expansão a nível mundial. Como ficará a sua questão do Design para nós?

Olhando para frente, iniciativas futuristas seguem em curso, como veículos autônomos, cidades inteligentes, medicina visual, reconhecimento de fala e face. Todas as melhorias são propostas de uma maneira rápida e eficiente, e são realidade. Fica aqui a expectativa de saber como nossas culturas e tecnologias se fundirão de acordo com nossas próprias características. Até lá, seguimos ainda aprendendo a respeito de muitas coisas.

Publicidade

Compartilhe

Patrocínio