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Inovando com arte ou a arte de inovar?

O papel da arte aliada à alta tecnologia e como trazer esses conceitos para a inovação no dia a dia são temas de destaque no SXSW 21


19 de março de 2021 - 16h34

“Em tempos de crises, são frequentemente os artistas quem nos ajudam a processar e entender o mundo à nossa volta”. Foi essa a citação que mais marcou a minha leitura da sessão “Introjetando artistas nos ecossistemas de startups” (Injecting Artists Into the Startup Ecosystem). Na conversa, Rosemarie Truman, Sheri Sobrato e Jordan Gray discutiram a inclusão de artistas no processo de inovação de startups e as riquezas e desafios dessa parceria.

Rosemarie é fundadora e CEO do The Center for Advancing Innovation, uma empresa focada em combinar propriedade intelectual com empreendedores para a criação de startups e buscar investimento para lançá-las no mercado estadunidense. Um caso apresentado por ela foi o projeto Scale (Supply Chain and Logistics Enterprizes) realizado em parceria com a Família Walton. A iniciativa tinha o desafio de contar com artistas em todos os times internos de trabalho para a criação das startups. O resultado não poderia ser melhor: após passarem por todas as fases do programa, o projeto Scale teve um aproveitamento de 100% com todas as startups aprovadas. E esse número é muito expressivo, já que 90% das startups normalmente vão à falência em 1 ano.

(Crédtios: Andrew Neel/Pexels)

Já em sua fala, Jordan Gray evidenciou a tecnologia como o pincel – uma ferramenta para a arte. Ela possibilita que artistas e celebridades criem uma conexão direta e intensa com seu público e essa conexão traz um entendimento único de como se comunicar com ele. E como parte da discussão, Sheri Sobrato expôs a habilidade desses profissionais em expressar suas emoções e transmitir uma mensagem de maneira mais descomplicada. Além disso, são pessoas, por natureza, autênticas e únicas e essa unicidade pode trazer benefícios para marcas e empresas se posicionarem no mercado.

A verdade é que as empresas já perceberam esse movimento há alguns anos. A cocriação de projetos e campanhas com artistas, influenciadores e até consumidores já se mostrou uma prática eficiente. Mas o que está por trás desse movimento? Quais são os benefícios de trazê-los para dentro do processo de inovação?

Sem dúvida, a chave para um balanço perfeito é desenhar muito bem seu papel no processo de colaboração e também dar plena abertura e confiança para poderem criar e trabalhar. É crucial que as expectativas sejam muito claras e que artistas e influenciadores adquiram um profundo conhecimento sobre a marca e missão. Um bom exemplo é a parceria entre Marc Jacobs e Coca Light: o estilista foi contratado como diretor criativo para trabalhar as embalagens comemorativas de 30 anos da marca e a campanha foi um sucesso. Veja a campanha abaixo:

Inteligência e saúde emocional como barreira
Durante o painel, Rosemarie revelou que diversas vezes, durante o projeto Scale, ela teve a necessidade de conduzir e lidar com crises emocionais – entre elas a de falta de confiança – que artistas enfrentaram durante o processo.

Mas a falta de confiança e inteligência emocional não aflige somente profissionais de arte. Sheri Sobrato, cuja missão é desenvolver habilidades emocionais em jovens através da arte e da tecnologia, conta sobre o projeto Shadow’s Edge: jogo para smartphones em que jovens e adultos podem criar peças de arte a fim de extravasar as emoções que sentem. O projeto nasceu a partir de atendimentos realizados com crianças e adolescentes, atendidos por Sheri, que apresentaram uma forte necessidade de conexão com pessoas da mesma idade, região e, principalmente, que passam pelos mesmos distúrbios emocionais que enfrentam no dia a dia.

E foi do entendimento dessa necessidade de identificação, que se abriu a oportunidade de criar uma forma de conectar essas pessoas através de uma rede de suporte emocional. Cada jogador tem acesso às peças que criou para que as possa revivê-las e analisá-las, mas, mais do que isso, o game permite que ele publique as criações em uma rede social interna chamada Shadowgram. A tecnologia entra nesse processo como uma ferramenta para uma modalidade de cura, pois possibilita que jogadores se conectem emocionalmente entre si.

Fazendo um paralelo com o ambiente digital de forma geral, ele é o espaço em que as pessoas se sentem mais confortáveis em fazer críticas, expor pontos de vista e, por diversas vezes, vemos artistas passando por crises sobre como lidar com esses comentários. Seria um problema humano não saber lidar com críticas? Ou estamos começando a enxergar movimentos para um comportamento menos individualista no geral?

A realidade é que está cada vez mais difícil manter as rédeas da saúde emocional. O crescimento das Healthtechs direcionadas para saúde mental não nos deixa negar tal fato. Segundo dados da Sensor Tower, consultoria de pesquisa especializada em aplicativos, o gasto mundial das ferramentas digitais de autocuidado chegou a US$ 195 milhões em 2019. Já temos hoje uma infinidade de aplicativos focados em meditação e insônia e o número de downloads só cresce.

Já vivíamos na cultura da extrema produtividade e agora na pandemia isso ficou ainda mais exacerbado em novas rotinas de trabalho. Me pergunto o quanto essa crise de confiança também aflige parte dos profissionais de hoje e trago a reflexão para mais perto de nós – quem, se não nós mesmos, são artistas no dia a dia?

Para Jaqueline Weigel, futurista estratégica e CEO da W Futurismo, o egoísmo e o egocentrismo são conceitos que estão se tornando cada vez mais obsoletos na nossa sociedade. O aumento das crises de burnout e ansiedade trazem à tona a necessidade de uma ressignificação do trabalho, do uso do tempo, e dos compromissos sociais e ambientais que assumimos. Em uma entrevista ao site Whow ela reforça que “As empresas que não tiverem compromisso com impacto social irão monetizar menos”, e essa visão dos negócios de forma humanitária também é um pensamento compartilhado por Jordan Gray. Ele provoca o pensamento de como agregamos mais humanidade à tecnologia para que ela desempenhe um papel de desenvolvimento sustentável.

Como reflexão final, compartilho do pensamento de Jordan, Rosemarie e Sheri: precisamos alimentar a veia artística que existe em nós, ter coragem de expor nossas emoções no trabalho do dia a dia e produzir algo que realmente possibilite a conexão entre pessoas.

No fundo, arte é uma ferramenta para nos conectarmos com nós mesmos e a tecnologia uma ferramenta para nos conectarmos com o mundo. E aí? Vamos fazer arte?

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