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Vacinas contra a Covid-19: Foi rápido demais?

Quem teve a oportunidade de acompanhar o SXSW ao longo dos últimos anos, notou que a cada edição o festival trouxe mais cientistas e profissionais de saúde para debater o futuro com pessoas de tecnologia


19 de março de 2021 - 13h05

(Crédito: Hakan Nural/ Unsplash)

Cientistas costumam viver e trabalhar no anonimato, reclusos em seus laboratórios, com poucas interações com o mundo exterior, a mídia e o público em geral. Essa realidade mudou radicalmente com a chegada avassaladora da Covid-19 em 2020. A corrida mundial por conseguir desenvolver, testar e seguramente aplicar vacinas na população e, assim, conter o avanço da pandemia, colocou alguns destes cientistas, responsáveis pelos estudos e desenvolvimentos de vacinas contra a Covid-19 em todo o mundo, no olho do furacão, com grande exposição midiática e pressão política. Algumas destas histórias foram registradas em um documentário da CNN e BBC, chamado Corrida pela Vacina/ Vacina: A História de Dentro, que será lançado em breve e, no painel “Imunizado: Covid 19 e a Corrida pela Vacina”, no segundo dia do SXSW 2021 Online, o Dr. Sanjay Gupta da CNN entrevistou dois destes cientistas diretamente envolvidos no desenvolvimento de vacinas.

O Dr. Keith Chappell, virologista molecular da Universidade de Queensland, na Austrália, conta como ele e sua equipe estiveram muito próximos de lançar sua vacina, mas tiveram que parar os testes e retornar ao laboratório para, praticamente recomeçar do zero, quando identificaram que a vacina poderia influenciar nos testes de HIV em pacientes. Apesar de serem aclamados pela população como os possíveis heróis nacionais, caso conseguissem lançar a vacina, ele e sua equipe não duvidaram em retroceder e agir responsavelmente, sabendo dos impactos negativos que o problema detectado poderia ocasionar, mesmo tendo eficácia comprovada no combate ao vírus da Covid-19.

Por outro lado, a Professora Katie Ewar da Universidade de Oxford, uma das líderes no desenvolvimento da vacina contra a Covid-19 da Astra Zeneca, conta como tiveram que enfrentar uma situação de calamidade causada pela pandemia no Reino Unido durante quase todo o período de trabalho e precisaram viver em grupos bolhas, isolando-se durante várias semanas do convívio com outras pessoas fora do laboratório, inclusive familiares. Quando indagada pelo entrevistador sobre a pressão para chegar a um resultado positivo com os testes da vacina e se houve pressa e atropelamento de processos ou protocolos para se chegar a uma solução mais rápida, ela é taxativa: não houve. E explica por quê. As bases tecnológicas desta vacina, segunda ela, já estavam totalmente estabelecidas. Ela que trabalha há dozes anos no desenvolvimento de vacinas, conta como os trabalhos em torno às vacinas do Ebola, da Malária e até da gripe comum ajudaram muito a pavimentar o terreno para a vacina da Covid-19. Um trabalho de base de mais de uma década, que permitiu disponibilizar a nova vacina para testes em tempo recorde.

Quem teve a oportunidade de acompanhar o SXSW ao longo dos últimos anos, notou que a cada edição o festival trouxe mais cientistas e profissionais de saúde para debater o futuro com pessoas de tecnologia. Em todos estes painéis e sessões, ficou claro como a evolução no processamento de dados, a inteligência artificial e outras inovações tecnológicas têm contribuído para acelerar e baratear o desenvolvimento de remédios e vacinas. A cada ano que passa, o tempo e os recursos despendidos nestes processos diminuem. Em anos anteriores no evento, assisti a painéis que falavam da redução do tempo médio de desenvolvimento de medicinas de dez para dois anos, viabilizados pela inteligência artificial e outras tecnologias. Com essas informações, fica muito mais fácil entender como foi possível desenvolver tantas vacinas eficazes contra a Covid-19, em tão pouco tempo e nos mais diversos lugares do planeta. Para a ciência e quem vive dela, não foi uma surpresa. Para os demais, leigos como eu, buscar informar-se apropriadamente sobre o assunto, em canais de informação profissional e não através de correntes do WhatsApp, é o melhor caminho para entender e confiar na ciência. E não passar vergonha falando do que não se conhece.

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