Diversidade e inclusão: exemplos práticos e de alto impacto
Nos últimos anos, o SXSW tem incluído cada vez mais as pautas sociais em seu conteúdo
Nos últimos anos, o SXSW tem incluído cada vez mais as pautas sociais em seu conteúdo
17 de março de 2021 - 14h22
Nos últimos anos, o SXSW tem incluído cada vez mais as pautas sociais em seu conteúdo. Assuntos como equidade de gênero, raça e orientação sexual, ativismo político, mudanças climáticas e desigualdade social, vêm ocupando cada vez mais terreno no line-up de palestras, painéis e keynotes do festival e também boa parte da minha seleção pessoal. Ontem, primeiro dia do SXSW 2021, o primeiro da história a ser feito 100% online, vi algumas bem interessantes.
O brutal assassinato de George Floyd no ano passado provocou a tardia, mas necessária ascensão das pautas anti-racistas ao topo das prioridades em empresas, na mídia e também no SXSW. Stacey Abrams, autora de best-seller, empreendedora e líder política, entrevistada por N.K. Jemisin, assim como ela, negra e autora de best sellers, foi a primeira Keynote do evento este ano. Stacey, que serviu como líder das minorias na Câmara dos Deputados da Georgia, foi também a candidata democrata pelo estado em 2018 e perdeu a eleição por poucos votos. Ao longo de sua carreira, fundou diversas organizações dedicadas à recuperação dos direitos políticos de pessoas excluídas pelo sistema eleitoral, muitas vezes por serem ex-detentos de crimes menores, quase sempre pessoas negras de baixa renda. Ao não poderem votar, essas pessoas passam a ser cada vez menos representadas e suas condições de vida só vão piorando.
Em paralelo, Stacey também criou organizações que treinam e inserem jovens negros no mercado de trabalho, além de organizações de amparo social. Ela é reconhecida como a principal responsável pela vitória de Joe Biden na Georgia, estado que há 28 anos era base segura de vitória dos republicanos, justamente ao conseguir garantir a recuperação dos direitos de votos de muitas dessas pessoas excluídas pelo sistema. Apesar de feliz com este grande feito, ela alerta que a luta não termina aqui. Segundo diz, para garantir que os direitos dessas minorias sejam cumpridos e que suas pautas sejam atendidas, a militância constante, o ativismo político permanente, fazem-se totalmente necessários.
Angela Benton é a fundadora e CEO da Streamlytics, um ecossistema de inteligência de dados, que garante um uso ético dos dados das pessoas por parte de companhias. Para isso, ela criou um algoritmo que avalia o valor real que os dados de uma pessoa podem ter para uma empresa interessada em adquiri-los, baseando-se no volume de dados, na capacidade de consumo e no poder de influência da pessoa. Uma vez valorados os dados, a pessoa pode então decidir vendê-los por este preço justo a uma companhia ou outra e a Streamlytics cuida dessa parte também. Além disso, ela verifica que os dados comprados são corretamente utilizados, eliminando a identificação pessoal e aplicando-os apenas aos fins previamente comunicados. O foco de atuação da Streamlytics são as pessoas negras, primordialmente jovens negros. Angela, que já está em seu terceiro empreendimento e sempre focou suas atuações neste extrato da população, explica que seu valor é quase sempre subavaliado pelas companhias, já que são grandes geradores de dados, consumidores de produtos digitais e muito ativos nas redes sociais. É também a parcela da população que mais cresce, apontando para uma ainda maior importância como grupo consumidor no futuro.
Por outro lado, diz Angela, é também uma forma de ajudar na redistribuição de riqueza, uma vez que este é o grupo historicamente mais excluído e desprivilegiado da população. Além disso, pode ajudar a reparar claros vieses que hoje existem em sistema de inteligência artificial no mundo, que foram quase sempre programados por pessoas brancas e cometem erros gravíssimos de avaliação ao, por exemplo, negar crédito a pessoas negras ou mesmo aumentar as probabilidades de suspeição de pessoas negras em investigações criminais. Ao incluir dados mais diversos em seus sistemas, as empresas garantem visões menos tendenciosas, agem de forma mais justa e deixam de perder parte de um mercado consumidor importante. A Streamlytics é, portanto, um negócio sustentável, que promove as boas práticas no uso de dados e ajuda a reequilibrar o saldo negativo que a população negra tem acumulado há séculos nos EUA. É, ademais, um exemplo de que fazer o bem pode também ser um bom negócio.
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