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Os altos e baixos do SXSW 2019

Com novo recorde de inscritos e sendo a primeira delegação estrangeira, Brasil tem participação em peso de anunciantes; tecnologia passa a dar espaço a emoções

Luiz Gustavo Pacete
15 de março de 2019 - 18h00

Nas ruas de Austin, patinetes, bicicletas e muitas pessoas, essa foi a atmosfera do SXSW 2019 (Crédito: Isabella Lessa)

Dez dias intensos em que mais de 300 mil pessoas participaram, direta ou indiretamente, de algum evento relacionado ao South by Southwest (SXSW) pelas ruas de Austin. Desafiado anualmente por sua capacidade de entrega de experiência, o festival corrigiu alguns erros do ano passado relacionados à organização, mas também derrapou em alguns pontos como curadoria, por exemplo. O Brasil foi a primeira delegação estrangeira em participação com 1.666 inscritos, de acordo com dados atualizados nesta quinta-feira, 14.

Para os 70 colunistas que contribuíram ativamente para o Meio & Mensagem durante este período produzindo mais de 150 textos, o SXSW se superou mais uma vez. “A atmosfera de Austin continua única garantindo a experiência do evento e a diversidade continuou em alta na programação pautada pela agenda de gênero: women of color & women in tech”, diz Wal Flor, cofundadora da agência Lynx. Cássio Lopes, CCO da Purple Cow, reforça que enxergou a abordagem sobre tecnologia nesta edição, muito mais como aliada e menos como vilã. “Me chamou a atenção a possibilidade de o AI fazer coisas que vão abrir caminho para o ser humano fazer muito mais. ”

Além disso também houve participação recorde de grandes empresas brasileiras como Nestlé, Coca-Cola, Natura, Embraer, Itaú e Globo. Somente a Apex levou uma delegação de mais de 80 startups. Para Carolina Sevciuc, diretora de transformação digital de Nestlé, o evento foi uma oportunidade para a empresa (e suas marcas) acompanharem tendências e inovações do mundo inteiro, que podem resultar em ideias para encontrar soluções para os desafios enfrentados pela indústria. Além dela, mais 11 colegas da empresa participaram do festival e, inclusive, se reuniram diariamente para trocar informações.

Muitas cores e ativações espalhadas por Austin marcam a semana do festival (Crédito: Karina Balan Julio)

Marcelo Trevisani, CMO da consultoria CI&T, reforça que a privacidade de dados foi um tema em destaque no SXSW 2019. “A palestra da Amy Webb, futurista e fundadora do Future Today Institute, por exemplo, trouxe questões importantes sobre o assunto. O levantamento Tech Trends Report mostrou os desafios que as empresas possuem para armazenar e proteger esses dados e também o impacto da inteligência artificial nas interações entre diferentes indústrias e plataformas”, explica. Neste levantamento, Meio & Mensagem consultou seus colaboradores para entender quais foram os pontos altos e as decepções deste ano com o link de matérias e artigos relacionados ao tema citado.

Altos

Patinetes, bikes, scooters…
As bicicletas tradicionais ganharam a companhia das bikes elétricas, patinetes e scooters, reunindo nessa disputa a atenção de marcas como Lime, Bird, Jump e Lyft. A possibilidade de se locomover de forma rápida, barata e divertida entre os hotéis e áreas de ativação foi algo comemorado pelos participantes.

Coexistir, o desafio das bikes, patinetes e scooters (Crédito: Isabella Lessa)

Emoções, sensações e humanidades…
Muito menos sobre tecnologia e muito mais sobre pessoas. Os temas relacionados a sentimentos, conexões, saúde mental e comportamento humano foram protagonistas. “Será que em um mundo tão artificial e pautado pela aparência as pessoas estão dispostas a sentir a incerteza, a crítica e o desconforto?”, destacou Bené Brown falando sobre a redescoberta do ser humano em meio à tanta tecnologia.

Good Omens, da Amazon Prime, ponto alto das ativações no SXSW (Crédito: Isaque Criscuolo)

Good Omens…
A série original da Amazon Prime, inspirada na obra do escritor Neil Gaiman, ocupou uma quadra inteira próxima à Rainey Street com uma ativação que envolveu imersão no universo da série e várias atividades. Além disso, as ativações pontuais derivadas da série espalhadas pelas ruas de Austin chamaram a atenção.

Amy Webb e mais tendências…
A futurista e pesquisadora Amy Webb, diretora do Instituto Future Today, da escola de negócios de New York University, lotou o maior auditório do Convention Center, em Austin, no sábado, 9. Em sua palestra, ela apresentou a mais recente edição do relatório Tech Trends, report que busca fazer uma previsão do impacto de tecnologias emergentes sobre a sociedade, a curto e longo prazo. “Qualquer empresa ou pessoa que queira entender o futuro de sua área tem de estar muito atenta à tendências adjacentes. Não se trata de prever o futuro, mas de fazer conexões entre áreas que parecem não ter nada a ver”, disse Amy.

Ammy Web apresenta a nova edição de seu relatório de tendências (Crédito:Karina Balan Julio)

Rolês por Marte…
Parte importante do SXSW, o Virtual Cinema é concorrido. E geralmente um tipo de interação se destaca. No ano passado, o mais disputado foi o Sphere, obra que inseria as pessoas no momento de nascimento e morte de uma estrela. Neste ano, o Mars não teve um dia sequer sem filas. Neste caso, as pessoas faziam um tour por dentro de uma estação espacial marciana.

Susan Fowler, engenheira que expôs a cultura de assédio do Uber (Crédito: Jonas Furtado)

Diversidade e inclusão…
Wal Flor, cofundadora da agência Lynx, comemora que o SXSW manteve as discussões sobre diversidade e inclusão. “Pautada pela agenda de gênero: women of color & women in tech”, afirmou. Entre os destaques deste tema esteve Susan Fowler, engenheira que expôs a cultura de assédio do Uber, além da atriz Elisabeth Moss, protagonista da série “Handmaid´s Tale”.

Trade Show…
As inovações da feira foram ainda mais notáveis neste ano. Sobretudo, pelas tecnologias apresentadas e o sucesso que elas tiveram. Entram na lista a possibilidade de mapeamento genético, o holograma a serviço da publicidade, robôs afetivos e as máquinas que produzem sushi e outros alimentos.

A experiência imersiva Marte atraiu vários visitantes no Virtual Cinema (Crédito: Isaque Criscuolo)

Anunciantes brasileiros…
A presença massiva de anunciantes brasileiros chamou a atenção. Nestlé, Coca-Cola, Itaú e muitas outras empresas estiveram representadas em grupos de dezenas de profissionais.

Plant Based Burguer…
Na onda da saudabilidade e em meio à ascensão do movimento de foodtechs, a startup californiada Impossible Foods chamou a atenção com seu hambúrguer com base de plantas servido em restaurantes como Hopdoddy Burger Bar, Next Level Burger e Arlo’s.

Wellness Fair…
O Wellness Market, que durou dois dias. Nela, produtos, serviços e  clínicas que ofereciam exames a preços acessíveis após uma pré-consulta médica, e startups de distribuição de medicamentos de uso prolongado em doses controladas e separadas, entregues semanalmente aos pacientes. Além dessas iniciativas, foram apresentados os já tradicionais testes genéticos, agora mais segmentados, remédios de CBD e de renovação celular.

Desenvolvida pela startup californiana Impossible Foods, o hambúrguer based planted foi uma das sensações do festival (Crédito: Isaque Criscuolo)

Cannnabusiness…
Vanessa Mathias, cofundadora da White Rabbit destaca o papel que tomou o tema neste ano. “Se nas outras edições vimos a cannabis ‘saindo do armário’, ela virou assunto sério de negócio. Impacto na saúde, na alimentação e agricultura são exemplos. Falando nisso – o retorno dos psicodélicos como tratamento também foi endereçado.”

Baixos

Patinetes, bikes, scooters…
A alta oferta de meios de locomoção para micromobilidade e a ausência de regras específicas gerou um clima de caos nas ruas de Austin. A ocupação das calçadas por esse meio de transporte também foi um fator que chamou a atenção.

Presença da China…
Se no ano passado a China estava em alta nas presenças em painéis, neste ano, as discussões relacionadas à potência mundial e como ela vem moldando o futuro da tecnologia deixou a desejar. Segundo Wal Flor, esperavam-se mais coisas em relação a um país que está ditando os rumos da tecnologia e da economia.

Game of Thrones…
No ano passado, com o objetivo de promover a segunda temporada da série de ficção científica Westworld, a HBO tirou as pessoas de Austin Dowtown para uma experiência de imersão na ativação mais procurada daquele ano. Neste ano, em parceria com a Cruz Vermelha criou uma ativação que permitia aos convidados doar sangue, no entanto, sem o tamanho e a proporção da ativação de Westworld no ano passado.

Ativação de Game of Thrones durante o SXSW 2019 (Crédito: Isaque Criscuolo)

Agenda…
Para Marcelo Trevisani, mesmo um evento tão com tantas possibilidades como o SXSW, pode ter pontos desfavoráveis. “Um deles é a dificuldade de acertar na escolha das palestras, mesmo tendo feito uma curadoria anteriormente e conhecendo o profissional que fará a palestra. Às vezes, o título da apresentação não traduz muito bem o conteúdo. O que tentei fazer foi ‘hackear’ o evento, saindo do mainstream quando podia, tentando adicionar outras palestras de outros assuntos no meu repertório”, afirma.

Brisket…
O famoso churrasco texano foi a sensação em Austin com destaque para Franklin Barbecue, Coopers e Iron Works. Vir ao SXSW e não conhecer algumas dessas casas, para os que gostam de carne, era deixar a experiência incompleta. Neste ano, no entanto, as tradicionais casas texanas deram espaço a restaurante de comidas saudáveis.

Howard Schultz foi criticado por transformar o SXSW em palanque político (Crédito: Reprodução)

Keynote speakers…
Apesar de nomes COO Howard Schultz, da Starbucks e Elisabeth Moss, houve falta de speakers que chamassem tanto a atenção como foi o caso de Elon Musk, no ano passado, e de Barack Obama em 2016.

VR Cinema…
Apesar de ser uma das áreas mais esperadas do SXSW para quem é fã de imersão, a mostra possui um período curto, de três dias, e com frequência gera criticas em função de suas filas e a dificuldade de se experimentar as experiências.

Blockchain…
Por mais um ano, a track de blokchain não conseguiu ser didática o suficiente para traduzir os impactos de uma tecnologia tão complexa. Com exceção dos técnicos ou daqueles que já trabalham com a tecnologia, o assunto ficou disperso.

Storytelling…
Ícaro de Abreu, head de inovação da IBM, reforça a necessidade do uso de ferramentas diferenciadas nas palestras. “Acho fraco a questão de narrativas mais elaboraras usando novas tecnologias.”

 

 

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